Parceiro de Paulinho da Viola, Casquinha da Portela morre aos 95
Em 1964, o tímido e desconhecido Paulo César Baptista de Faria foi provocado, na quadra da Portela, a mostrar algum samba aos compositores da escola. Disse que só tinha um pedaço e cantarolou os versos da música que viria a se chamar “Recado”.
Craque da improvisação, Otto Enrique Trepte criou logo a segunda parte. Tornaram-se parceiros, apesar de um ter 20 anos a mais do que o outro.
Paulo César se tornou Paulinho da Viola. Otto Enrique, filho de alemão com negra, portelense desde a infância, bancário e ex-jogador de futebol de clubes pequenos, já era conhecido como Casquinha. Ganhara o apelido depois de comer um pedaço de carne caído do prato de um colega.
“Recado” se tornou uma das composições mais conhecidas de Casquinha, em parte por causa da projeção que o parceiro teve ao longo dos anos. Mas é injusto reduzir sua obra a esse samba.
Se o critério for sucesso popular, há um até maior: “A Chuva Cai”, parceria com o também portelense Argemiro Patrocínio, lançado por Beth Carvalho em 1980.
Caso a avaliação seja por qualidade, há vários que podem ser lembrados. Exemplos: “Maria Sambamba” (incluído por João Nogueira em seu primeiro disco solo, de 1972); “Gorjear da Passarada” (também com Argemiro e também lançado por Beth Carvalho, em 1981); “O Ideal é Competir” (parceria com Candeia que Paulinho da Viola gravou em 1996).
Era tão bom nas músicas mais líricas quanto nas divertidas. Estas combinavam com o seu temperamento e com a tradição do partido-alto, que honrava com suas improvisações. Zeca Pagodinho gravou “Coroa Avançada”.
Pode-se dizer que Casquinha passou a criar sambas por acaso. Candeia gostou da voz dele e pediu a Ventura, liderança da Portela, que o deixasse entrar na ala dos compositores. O teste era mostrar dois sambas. Casquinha, que nunca fizera nenhum, produziu os dois —um deles com Candeia— e foi aceito.
Isso foi no final da década de 1940. Seu maior momento na ala de compositores aconteceu no Carnaval de 1959, quando a escola foi campeã com o enredo “Brasil, Pantheon de Glórias”. O samba era dele, de Candeia, Valdir 59, Altair Prego e Bubu.
Nos anos 1960 fez parte do grupo Os Mensageiros do Samba com, entre outros, Candeia, Picolino e Arlindo (pai de Arlindo Cruz).
Tocou surdo no primeiro disco da Velha Guarda da Portela, de 1970, e depois passou a integrá-la. No CD “Tudo Azul” (1999), produzido por Marisa Monte, ele interpretou seus sambas “Vem, Amor” e “Falsas Juras” (outra parceria com Candeia).
Seu primeiro disco solo foi realizado apenas em 2001, com produção de Moacyr Luz. Em 2014, foi reverenciado no DVD “Casquinha da Portela – O Samba Não Tem Cor”, com participações de Zeca Pagodinho e outros.
Morreu nesta terça (2) aos 95 anos, de infecção generalizada. Estava internado desde o último dia 22, no Rio. O velório aconteceu na terça na antiga quadra da Portela, onde conheceu Paulinho da Viola.