Pedro Nunes, matemático entre dois mundos
Anos atrás visitei o promontório de Sagres, na costa sul de Portugal, celebrizado por Luís de Camões em “Os Lusíadas”. De lá saíram, meio milênio atrás, as embarcações portuguesas que descobriram para os europeus tantas novas terras na África, Ásia e América, incluindo o Brasil.
Como muitos outros visitantes um pouco ingênuos, busquei vestígios da famosa “escola de Sagres”, que teria sido criada pelo príncipe D. Henrique, o Navegador (1394–1460).
Tal escola nunca existiu fisicamente, mas é fato que Henrique se cercou dos melhores matemáticos, astrônomos, cosmógrafos e cartógrafos do seu tempo, e nesse ambiente de intensa curiosidade fomentado pelo príncipe floresceu uma escola de pensamento que buscava o conhecimento na experiência direta, e não mais nos livros antigos.
O maior expoente da tradição iniciada em Sagres foi o matemático e cosmógrafo português Pedro Nunes (1502–1578), uma das maiores figuras científicas de seu tempo. Tempo de transição entre a tradição medieval, respeitosa da autoridade, e a cultura do Renascimento, voltada para o mundo empírico.
Pedro Nunes foi o último grande matemático que contribuiu para melhorar o sistema astronômico geocêntrico de Ptolomeu, que logo seria desbancado pelo sistema heliocêntrico, de Copérnico e Galileu.
Mas foi também um inventor de instrumentos práticos para uso na navegação. O mais famoso é o nônio, engenhoso sistema de réguas deslizantes com graduações distintas, que aumenta muito a precisão da medição.
Pedro Nunes foi ainda um divulgador da ciência do seu tempo, para o que contribuiu escrevendo trabalhos científicos em português e espanhol, além do inevitável latim. Em alguns desses trabalhos vislumbramos ideias do cálculo, que seria descoberto mais de um século depois por Newton e Leibnitz.
Formado em medicina pela Universidade de Coimbra, Pedro Nunes tornou-se o primeiro catedrático de matemática dessa universidade. Foi cosmógrafo real e preceptor dos filhos do rei de Portugal. Está imortalizado por uma efígie no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, à margem do rio Tejo.