Pelo título, técnico fecha França após polêmicas e monta seleção 'sem egos'
A França se fechou em si mesma para chegar ao título mundial. Após uma sequência de brigas, polêmicas, não convocações e descontentamentos que marcaram a seleção desde 2010, o técnico Didier Deschamps trabalhou durante os últimos três anos para ter o grupo mais homogêneo possível.
Nem que para isso tivesse de sacrificar jogadores famosos e que normalmente estariam no grupo para a Copa da Rússia.
“Conseguimos montar um elenco que pensa como equipe. Sem egos”, disse o treinador.
Há o fantasma dos conflitos do passado. Em 2010, no meio do Mundial na África do Sul, os jogadores fizeram um motim para afastar o técnico Raymond Domenech, que havia mandado para casa o atacante Nicolas Anelka após uma troca de ofensas.
O lateral Patrice Evra teve de ser contido para não sair no braço com integrante da comissão técnica que o chamou de traidor.
Não é surpresa que a França, vice-campeã na Copa anterior, em 2006, tenha sido eliminada na primeira fase quatro anos depois.
“Houve erros no passado que não vamos repetir. Esta seleção é jovem, mas sabe o que quer. Você não precisa ter dois ou três mundiais na carreira para ganhá-lo”, afirmou o zagueiro Varane após a vitória sobre a Argentina, nas oitavas de final.
Nesta sexta (6), em Nijni Novgorod, a seleção enfrenta o Uruguai pelas quartas de final.
A necessidade de criar uma unidade fez outras vítimas. Nenhuma tão conhecida quanto Karim Benzema, atacante do Real Madrid. Ele ficou fora por ter protagonizado enredo de thriller policial que envolveu colega de seleção e uma chantagem.
Vídeo íntimo do meia Valbuena foi obtido por uma gangue francesa que tentou extorquir o armador para que as imagens não fossem divulgadas.
Benzema procurou o companheiro de seleção, em 2015, para dizer que conhecia o chantagista e poderia intermediar um acordo. O caso se tornou público e virou um escândalo nacional.
Nenhum dos dois foi chamado por Deschamps para ir à Rússia. O centroavante da seleção no torneio é Giroud.
O ex-jogador francês Eric Cantona disse que o treinador não chamava Benzema por racismo. O atacante tem ascendência argelina. Deschamps processou Cantona.
Com o argumento da juventude, o treinador mostrou lealdade ao elenco que classificou a França para a Copa do Mundo e descartou a inclusão de Franck Ribéry, 35, na lista final.
“Eu confio nos garotos”, se limitou a dizer, quando questionado.
Há o toque do “nós contra o mundo”, uma filosofia que não é nova no futebol, mas que já deu certo no passado. Kylian Mbappé não fala com a imprensa porque não gostou das críticas feitas à seleção antes da viagem à Rússia.
Não abriu exceção nem após a atuação contra a Argentina, quando sofreu um pênalti e fez dois gols. Mas teve de se sentar diante dos jornalistas por ter sido eleito melhor em campo. Normas da Fifa. Deu algumas declarações protocolares e foi embora logo.