Pesquisa revela teor sexual de imagens que ridicularizam universidades
Os recentes anúncios de contingenciamento de verba nas universidades públicas foram acompanhados de uma onda de imagens ridicularizando essas instituições no WhatsApp, revela um sistema de monitoramento do aplicativo criado por pesquisadores brasileiros.
Ao longo dos últimos dias, o tema subitamente se tornou um dos mais compartilhados pelos usuários dessa rede social. As mensagens mais vistas seguem quase sempre o mesmo figurino: possuem conteúdo sexual, com imagens de jovens nus ou de capas de teses e dissertações sobre o tema supostamente defendidas em universidades federais. Também são comuns alusões à homossexualidade (veja exemplos no infográfico).
“Foi um susto e uma surpresa”, disse à Folha o cientista da computação Fabrício Benevenuto, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) que é um dos coordenadores do sistema WhatsApp Monitor. “Fui olhar como estava a situação certo dia e apareceram várias mensagens sobre o tema, do nada.”
O sistema realiza varreduras em mais de 500 grupos públicos do aplicativo —em geral, aqueles nos quais a pessoa pode se inscrever a partir de links disponibilizados em sites ou outras redes sociais. Os pesquisadores usam meia dúzia de celulares para entrar em tais grupos e recolher manualmente informações sobre o que está sendo mais compartilhado. Para evitar riscos para a privacidade dos participantes dos grupos, os números de celular nunca são armazenados.
É um trabalho que tem sido feito desde a eleição de 2018, na qual uma grande mobilização política e circulação de notícias falsas via WhatsApp ficaram claras no país.
“Politicamente, esses grupos pareciam meio desmobilizados depois da eleição, mas a gente notou um aumento desse tipo de mensagem e de seu compartilhamento, ainda que não se compare nem de longe ao que ocorreu no ano passado”, diz Benevenuto.
O volume de mensagens ridicularizando as universidades federais cresceu, segundo o pesquisador, a partir do dia 3 de maio. “Só no dia 5, havia 15 imagens do tipo entre as mais compartilhadas.”
As características da produção e do compartilhamento de mensagens no aplicativo fazem com que seja quase impossível estimar a origem dos memes mais visualizados. Entretanto, a aparente padronização das imagens chama a atenção —no caso das teses ridicularizadas, em geral da área de ciências humanas, há sempre a primeira página do trabalho, quase invariavelmente ligado a análises do comportamento homossexual. Outro trabalho acadêmico criticado analisa a figura da ex-presidente Dilma. “É algo que poderia ter sido orquestrado por um pequeno grupo de ativistas, mas é claro que é muito difícil ter certeza”, diz o pesquisador.
A falta de rastreabilidade e a dificuldade de responsabilizar quem espalha notícias falsas no WhatsApp é um dos motivos pelos quais cientistas da computação e ativistas pró-democracia têm pressionado a plataforma para que faça mudanças em seu funcionamento, como a restrição ao número de encaminhamentos de mensagens e de grupos nos quais cada pessoa pode participar. “Nossa intenção sempre foi ajudar a abrir essa caixa-preta”, diz Benevenuto.