Poder dos usuários é tema central de 'biografia' do Reddit
Antes da ascensão das redes sociais como Facebook e Instagram, em que interagimos sob nossos nomes e imagens (presumivelmente) reais, o padrão da internet era relacionar-se em comunidades em que éramos conhecidos por nossos usernames, que pouco se sobrepunham às nossas interações na vida real.
Usávamos sites, grupos, fóruns e wikis, geralmente organizados em torno de interesses comuns, que variavam de gatos a partidos políticos.
Se hoje para muitos essas discussões e trocas de memes se dão em grupos fechados no WhatsApp ou no Facebook, há um grande site que sobrevive até os dias de hoje no estilo "old school" da internet, com discussões abertas, usuários anônimos e policiamento mínimo por moderadores voluntários: o Reddit.
Menos conhecido do público geral, o site é, no entanto, o 22º maior do mundo em audiência --e o 6º maior nos EUA--, segundo dados da empresa de análise Alexa, que pertence à Amazon.
A página de discussões, dividida em centenas de milhares de "subreddits", por assuntos, supera em audiência gigantes como Netflix, Linked- In e Twitch.
A base do Reddit é um sistema pelo qual usuários publicam links e outros usuários votam para que esses links subam ou desçam na página, ganhando destaque ou não --uma espécie de seleção pela massa do que é mais interessante, relevante e surpreendente.
O resultado é uma mistura de disseminação de notícias, discussões acaloradas, atos de bondade, memes e ataques tóxicos, a depender do dia e da comunidade.
A história dessa empresa improvável é contada no livro "We Are the Nerds", da jornalista Christine Lagorio-Chafkin. Ela gasta boa parte do livro com a história corporativa da empresa, fundada pelos amigos Alexis Ohanian e Steve Huffman em 2005, que passou por uma bizarra sucessão de líderes e donos entre a saída dos dois, em 2009, e a volta deles, em 2014.
Mais interessante do que as brigas corporativas e trocas de presidentes-executivos, porém, é o relacionamento entre o Reddit e sua comunidade, devido ao alto grau de controle dela sobre o site e suas discussões.
Se em redes sociais como o Facebook o algoritmo é opaco e os dados dos usuários são usados pela empresa para vender anúncios, no Reddit o código é aberto, usuários podem criar novas páginas, e os critérios pelos quais posts ganham destaque são transparentes, o que leva a um grau de simbiose entre executivos e comunidade pouco visto em outras plataformas.
Mudanças abruptas em critérios de publicação e na equipe (principalmente a demissão da gerente de comunidade Victoria Taylor) levaram a uma revolta de redditors, como são conhecidos os usuários, em 2015, que culminou no pedido de demissão da presidente da empresa, Ellen Pao, incidente que dá uma ideia da magnitude do poder deles.
Dito isso, qualquer um que frequente fóruns de internet sabe que eles são suscetíveis a brigas e implosões dramáticas, e o Reddit não é exceção.
Outro episódio interessante, que merece alguns capítulos no livro, mas que poderia ter sido mais bem explorado, é o surgimento do subreddit r/The_Donald, sobre Donald Trump, então candidato à Presidência dos EUA.
Enquanto as investigações de autoridades americanas sobre a interferência russa nas eleições e sobre a disseminação de fake news se concentra em plataformas como Facebook e Google, foi no subreddit que surgiram muitos dos memes, teorias da conspiração e notícias falsas depois impulsionadas em outros meios.
A autora do livro é por demais condescendente com a demora dos gestores do Reddit em censurar comunidades em que todo tipo de conteúdo odioso florescia, de pornografia infantil a pornô de vingança e misoginia.
Mas Lagorio-Chafkin presta um serviço ao lembrar que nem tudo é lama na internet: redditors são responsáveis por diversas campanhas bem-sucedidas para levantar fundos para causas nobres e pela plataforma Reddit Gifts, cujos amigos secretos gigantes já juntaram mais de 130 mil pessoas trocando presentes.
MAIS VENDIDOS
Veja livros que se destacaram na semana
TEORIA E ANÁLISE
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2º/2º Rápido e Devagar, Daniel Kahneman, Ed. Objetiva, R$ 62,90
3º/3º Marketing 4.0, Philip Kotler, Hermawan Kartajaya e Iwan Setiawan, ed. Sextante, R$ 49,90
4º/4º Arriscando a Própria Pele, Nassim Nicholas Taleb, Ed. Objetiva, R$ 54,90
5º/5º Menos Estado e Mais Liberdade, Donald J. Boudreaux, Faro Editorial, R$ 24,90
Prática e Pessoas
1º/1º A Sutil Arte de Ligar o F*da-se, Mark Manson, Ed. Intrínseca, R$ 29,90
2º/2º Me Poupe!, Nathalia Arcuri, Ed. Sextante, R$ 29,90
3º/3º Seja Foda!, Caio Carneiro, Ed. Buzz, R$ 39,90
4º/5º O Poder do Hábito, Charles Duhigg, Ed. Objetiva, R$ 49,90
5º/4º Os Segredos da Mente Milionária, T. Harv Eker, ed. Sextante, R$ 29,90
Lista feita com amostra informada pelas livrarias Curitiba, da Folha, da Vila, Saraiva e Argumento; os preços são referências do mercado e podem variar