Pré-Carnaval | Centro da folia em SP

Se em cima do trio elétrico, artistas e celebridades como as atrizes Alessandra Negrini, Maria Ximenes e Emanuelle Araújo ganham os holofotes, é na rua que o folião faz a festa e dá a dimensão do Acadêmicos do Baixo Augusta - maior bloco de rua de São Paulo, que desfilou neste sábado à tarde na rua da Consolação, região central.

A estudante Isabela D'Elia saiu de Piracicaba, no interior, para curtir o pré-Carnaval de São Paulo. "Vim no sábado, para curtir o Beleza Rara [bloco com a Banda Eva], e hoje vim para o Baixo Augusta, que é sempre ouça que é muito bom", conta. Para o amigo dela, o empresário Gabriel Vieira, escolher o Baixo Augusta para se divertir tem ainda outra justificativa: "Lá nos outros blocos, a gente fica sendo empurrado, é muito apertado. Aqui as pessoas pedem licença".

A fama do Baixo Augusta também despertou o interesse do casal Daniela Roga e André Nery, de Bebedouro, no interior, para conhecer a festa. "Sempre ouvimos falar que é uma loucura", brinca ele, que se vestiu toda de rosa, e ela, de azul, em referência à frase da ministra de Direitos Humanos, Damares Alves, que disse que menino veste azul e menina veste rosa. "Vamos passar o Carnaval no interior, e então aproveitamos para curtir o pré-Carnaval aqui em São Paulo."

A expectativa dos organizadores do bloco era de que 1,5 milhão de pessoas acompanhassem a festa, mas até o fechamento da matéria ainda não havia confirmado o número final. No entanto, o que se viu foi a Consolação tomada por uma multidão de gente. Público que, segundo a profissional de marketing Greyce Flores, é "alternativo" e "diversidifcado". "Acho que o Baixo Augusta tem uma personalidade alternativa. Os outros blocos são um para cada tipo de público, mas aqui, não, há espaço diversificado, cabe hétero, cabe gay, por exemplo", explica. 

Festa 

O desfile deste ano celebrou os 10 anos do Baixo Augusta. Maria Rita foi a primeira convidada da banda do bloco a cantar na festa, com uma seleção de música que incluía "O Bêbado e A Equilibrista", clássico imortalizando na voz da mãe dela, Elis Regina. Ao longo da tarde, nomes como Emanuelle Araújo, Mariana Aydar e Fafá de Belém se revezaram no vocal, ao lado de Wilson Simoninha. Já no final do percurso, em frente à Casa do Baixo Augusta, os músicos André Frateschi, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, da atual formação do Legião Urbana, cantaram no trio elétrico, encerrando o evento em clima de rock. Neste ano, o tema do bloco foi "Que País É Esse?".

Um tom político esteve presente na festa. Em mais de um momento, os foliões puxaram coro contra o presidente Jair Bolsonaro. Ao cantar, o ator e cantor Julio Andrade também puxou coro de "Ele, Não", e foi acompanhado pelas pessoas. A banda do Baixo Augusta ainda fez homenagem às vítimas do rompimento da barragem de Brumadinho (MG), com um minuto de silêncio. 

Ao longo da festa, ainda houve a inauguração de uma empena, mural grafitado na lateral de um dos prédios da Consolação, próximo à rua Caio Prado: uma sereia, assinada pelo grafiteiro Speto.
Fantasias

Como já é tradição, a rainha do bloco, a atriz Alessandra Negrini roubou a cena. Com fantasia assinada pela figurinista Flavia Brunetti, a atriz explorou referências do movimento punk e da rua Augusta dos anos 1980 e 1990. "O punk é irreverência e transgressão, e é a origem da [rua] Augusta. E essa fantasia de punk combina com esse momento do Brasil e com o tema do bloco", diz.

Outro que chamou atenção com sua fantasia foi o estilista Walério, que se vestiu em homenagem à cantora Rita Lee. "Como o tema é rock, decidi homenagear ela. Minha amiga, fiz a capa do disco dela. E ela ficou muito feliz quando falei da homenagem. E temos que homenagear as pessoas vivas!", conta Araújo. 

Já a atriz Maria Casadevall não poupou ousadia no look. Ela desfilou com os seios à mostra no bloco, e escreveu no corpo a frase "Ele Não", em crítica a Bolsonaro. 

A atriz Emanuelle Araújo é também uma das celebridades que acompanha o Baixo Augusta há alguns anos. "Esse bloco revela a essência do Carnaval, que é a liberdade. Ainda mais num momento como esse do Brasil. Por isso que eu amo esses meninos", conta ela. 

Comemoração

Para Alê Youssef, um dos fundadores do bloco e atualmente secretário de Cultura de São Paulo, o domingo foi um dia de celebração: "Conquistamos o mais importante, que é o abraço da cidade". Segundo ele, é emocionante completar uma década de bloco com a aceitação dos paulistanos para o Carnaval. "Ontem, eu estava no Mamãe, Eu Quero, um bloco infantil, e via pais e filhos fantasiados. Antes, quando eu ia para o Carnaval do Rio, me perguntava se um dia ia ver isso em São Paulo", conta. 

Youssef comemora o espaço conquistado pelo Carnaval em São Paulo. "Óbvio que ainda existem muitas dificuldades e melhorias a fazer", diz ele, "mas o mais importante conquistamos, que é uma cidade que abraça a festa. Festa que, segundo projeção da CNI [Confederação Nacional da Indústria], deve movimentar R$ 1,9 bilhão", completa, se referindo a um estudo recém-divulgado.  De acordo com o CNI, neste ano a movimentação do Carnaval paulistano deve crescer 5% em relação a 2018.

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