Pragmatismo da direita com Israel X pragmatismo da esquerda com Venezuela
A senadora Ana Amélia (PP), candidata a vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin, acha que tudo bem o governo brasileiro fechar os olhos para a mania da Rússia de sair envenenando as pessoas com armas químicas, desde que o Brasil fature alguns milhões de dólares por não condenar o Kremlin.
“Quando houve aquele episódio na Inglaterra do envenenamento do russo (Serguei Skripal, que foi envenenado junto com a filha com Novichok), vários países, a começar pela Inglaterra, impuseram sanções à Rússia, sanções de natureza econômica. O Brasil não fez nada, não teve nenhum gesto e a Rússia mantém o embargo à carne suína brasileira”, disse a senadora em entrevista à Reuters nesta semana. O mercado russo está fechado para a carne suína brasileira há oito meses.
“O Brasil deveria aproveitar esse episódio e dizer: ‘olha, a negociação comercial, a relação comercial com a relação político-diplomática estão caminhando juntas’. Nós não fizemos nenhuma ação de represália ou de sanção então deem um gesto de boa vontade, para abrir a porta para a carne suína brasileira que continua sob embargo. Eu tenho essa visão, eu acho que esse é o pragmatismo comercial, uma visão na área da relação comercial bastante clara.”
Nada como uma política externa pragmática, certo?
Depende. Exatos oito anos atrás, o então chanceler, Celso Amorim, foi duramente criticado por tucanos ao justificar a visita do ex-presidente Lula à Guiné Equatorial, governada há quase quarenta anos pelo ditador Teodoro Obiang.
“Negócios são negócios” disse Amorim, e chamou de “pregação moralista” as menções às violações dos direitos humanos cometidas pelo ditador.
Não há muita diferença entre Obiang e Putin, um autocrata no poder desde 1999, cujas violações de direitos humanos na Rússia são amplamente divulgadas.
Ana Amélia vem apimentar o chuchu insosso de seu parceiro de chapa —vale lembrar que a senadora foi aquela que equiparou a rede de TV Al Jazeera, do governo do Qatar, à facção terrorista Estado Islâmico.
Política externa certamente não está entre as prioridades do eleitor brasileiro (ou de qualquer país, na realidade). Mas o tema sempre revela muito sobre a personalidade –e ignorância— dos candidatos a presidente e seus vices.
O candidato Jair Bolsonaro (PSL) copia sua plataforma de política externa do americano Donald Trump. Bolsonaro já disse que, caso eleito, vai tirar o Brasil do Acordo do Clima de Paris, tal como seu vizinho do norte.
Não vou nem entrar no mérito sobre a diferença do Brasil, um dos países mais bem equipados para enfrentar o desafio do aquecimento global, e dos EUA, e quanto o Brasil teria a ganhar se abraçasse com mais ênfase –e não abandonasse– a negociação climática.
Bolsonaro também declarou que vai transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Com isso, o Brasil se uniria à multidão de quatro países –Estados Unidos, Honduras, Guatemala e Paraguai– que mudaram sua embaixada e irritaram profundamente nações árabes, além de minar as já combalidas negociações entre israelenses e palestinos.
Mas, afinal, para Bolsonaro, “Palestina não é um país, então não deveria existir uma embaixada aqui”, disse ele, referindo-se a sua intenção de fechar a embaixada da Palestina em Brasília.
As sandices internacionais não são monopólio da direita.
O PT e o PC do B continuam apoiando de forma incondicional a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela e a de Daniel Ortega na Nicarágua.
Em nota após as eleições de 20 de maio, os partidos celebram a “retumbante vitória política e eleitoral do presidente Nicolás Maduro”, que seriam uma “expressão da vitalidade do sistema eleitoral democrático venezuelano e dos sólidos laços do governo com o povo.”
Eleições livres que vetaram partidos, prenderam candidatos, reagiram a manifestações com bombas. Sem falar das fake news. “A transparência e os mecanismos de verificação (das eleições venezuelanas) são reconhecidos por personalidades como o ex-presidente americano Jimmy Carter”, diz o comunicado do Foro de São Paulo, com apoio do PT. Faz muitos anos que o Carter Center não “reconhece” eleições venezuelanas.
“A eleição da Assembleia Nacional Constituinte (no ano passado) se deu com a completa inexistência de integridade eleitoral, representa sérios problemas de legitimidade e legalidade. As medidas adotadas pelo governo para cercear a liberdade de expressão e o direito a manifestações pacíficas vão contra os valores democráticos”, foi o comunicado do Carter Center.
Em relação à Nicarágua, onde morreram mais de 300 pessoas morreram em protestos nos últimos meses, o PT lamentou “ profundamente as mortes e eventuais violações de direitos humanos ocorridas.” Eventuais.