Prefeito trabalha como médico em equipe semifinalista do Baiano

Classificado para as semifinais do Campeonato Baiano com a segunda melhor campanha da primeira fase, o Alagoinhas Atlético Clube tem um reforço curioso em seu banco de reservas: o prefeito do município de Alagoinhas, que fica a 122 quilômetros de Salvador.

Joaquim Belarmino Cardoso Neto (DEM), 51, foi eleito em 2016 para seu primeiro mandato como prefeito da cidade e trabalha como médico voluntário do clube há 18 anos. Nesta quarta-feira (27), ele estará no banco do time, que enfrentará o Bahia às 21h30, no estádio Antônio de Figueiredo Carneiro, o Carneirão, em Alagoinhas, pela partida de volta da semifinal da competição.

Sensação do campeonato na primeira fase, a equipe agora precisa vencer por três gols de diferença para obter a classificação para a decisão, já que perdeu o confronto de ida por 3 a 0, na Fonte Nova, em Salvador, na última quinta-feira (21).

“Sou torcedor fanático do clube porque nasci aqui. Quando o estádio foi inaugurado [em 1971], não tinha dinheiro para ir ao campo. Na época, tive que vender laranja na feira para conseguir o ingresso”, conta Joaquim Neto, que diz que sua função no clube não atrapalha suas atribuições na prefeitura.

Segundo ele, os dois jogos do Atlético nesta edição do Baiano realizados fora de casa em dias de semana aconteceram à noite, depois do seu expediente, permitindo que ele comparecesse.

“Apenas cedemos o estádio para o clube. Não contribuímos com recursos financeiros. Quando assumimos a prefeitura, reformamos o estádio com a ajuda das empresas da região”, afirma.

Hoje comandando o orçamento da cidade com cerca de 151 mil habitantes, Joaquim Neto já exerceu o cargo de prefeito de Sátiro Dias (com aproximadamente 20 mil habitantes) por três mandatos: 1997 a 2000, 2001 a 2004 e 2009 a 2012. A distância entre as duas cidades é de 100 quilômetros.

“Trabalhei como médico nessas duas cidades. Construímos um pequeno hospital em Sátiro Dias e uma clínica referência em hemodiálise [Hemovida] aqui em Alagoinhas”, diz.

O fanatismo do prefeito pelo Atlético é comprovado pelo seu comportamento na beira do gramado. Após a vitória por 3 a 2 sobre o Jacuipense, pela última rodada da primeira fase, ele tirou a camisa e comemorou a classificação para a semifinal ao lado dos jogadores e da torcida.

Não é apenas nas comemorações que o prefeito se excede. No ano passado, foi suspenso pelo TJD-BA (Tribunal de Justiça Desportiva) por quatro partidas, além de ter de pagar multa de R$ 2.000 por ofender o árbitro durante jogo contra o Conquista, pela segunda divisão do Baiano. A pena foi convertida em doações.

De acordo com a súmula do confronto, Joaquim Neto disse as seguintes palavras: “Eu sou prefeito de Alagoinhas. Vocês não apitam mais em Alagoinhas, ladrões, vagabundos”.

“Houve uma discussão, no nosso entendimento, futebolística. Achamos que o árbitro deu muitos cartões amarelos para o nosso time e tivemos um jogador expulso. No final, fomos tirar satisfação e, como bom baiano, o árbitro não gostou do jeito que falamos”, conta o prefeito.

“Você tem que ver a euforia dele aqui em campo. Ele gosta muito de futebol”, diz Raimundo Queiróz, 45, presidente do Atlético e responsável por levar o Joaquim Neto para o clube.

Queiróz está na presidência da agremiação desde 2013. Ele já havia sido mandatário da equipe em outras duas oportunidades: 2003 a 2004 e 2006 a 2008.

“Na primeira vez que assumi a presidência do clube, convidei o prefeito para trabalhar como médico. Na oportunidade, ele era prefeito de Sátiro Dias e era médico voluntário da Catuense”, conta Queiróz, que era gerente de uma rede de supermercados na cidade quando assumiu a função de dirigente do clube. Hoje ele trabalha como chefe de gabinete de Joaquim Neto.

“Eu entrei na política assim que o prefeito ganhou a eleição. Até então, nunca tinha me envolvido com política. Ele me fez esse convite e estou ajudando”, diz o dirigente.

 

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