Princesa da Tailândia se candidata ao cargo de primeira-ministra e enfrentará militares
A princesa Ubolratana, irmã do rei da Tailândia, provocou um terremoto político ao anunciar nesta sexta-feira (8) que será candidata ao cargo de primeira-ministra nas eleições de março, nas quais terá como rival o comandante da junta militar que governa o país.
A inesperada candidatura da princesa abre um novo cenário político na Tailândia, país controlado com mão de ferro pelos militares.
Ubolratana Rajakanya, 67, disputará o cargo de primeira-ministra no governo civil que será formado após as eleições legislativas de 24 de março, por um partido próximo ao clã Shinawatra, grande inimigo da junta militar.
Ubolratana, uma personalidade extrovertida que contrasta com a do irmão, o rei Maha Vajiralongkorn, mais discreto, renunciou a seus títulos reais ao casar com um americano há algumas décadas.
Após se divorciar, ela retornou à Tailândia e ainda é considerada parte da família real.
Excelente atleta, além de atriz e cantora esporádica, a princesa havia demonstrado até agora pouco interesse pelo mundo político, dedicando boa parte do seu tempo à divulgação do cinema tailandês em festivais ao redor do mundo.
A entrada da princesa na política foi anunciada por Preechaphol Pongpanich, dirigente do partido Thai Raksa Chart. Este partido é tutelado por Thaksin Shinawatra, bilionário e ex-premiê no exílio, odiado pelo Exército, mas muito popular entre a população de baixa renda.
Shinawatra, um reformista, sempre foi visto pela velha Guarda Real e pelos militares como uma ameaça à monarquia. A situação motivou dois golpes de Estado militares contra seus governos, em 2006 e 2014.
Desde o último golpe militar, liderado por generais próximos ao rei Bhumibol Adulyadej, que morreu em 2016. Ele foi substituído por seu filho Maha Vajiralongkorn, 66.
A candidatura da irmã do rei —que segundo os analistas consultados não poderia ter sido decidida sem a aprovação do palácio— é, portanto, um sinal de ruptura sem precedentes com a velha guarda da época Bhumibol.
Nenhum membro da família real disputou o cargo de chefe de governo desde que a Tailândia se tornou uma monarquia constitucional em 1932.
Após o anúncio da princesa, o comandante da junta que governa o país, Prayut Chan-O-Cha, também anunciou que disputará o cargo, em uma tentativa dos militares de manter sua influência quatro anos após o golpe.
Chan-o-Cha e a princesa Ubolratana serão adversários nas eleições, as primeiras no país desde 2011 e que prometem uma grande disputa.
Ele lidera a junta militar há quase cinco anos. O regime aprovou uma nova Constituição para redefinir o panorama político e garantir que os militares controlem o poder após as eleições.
Sob o comando de Prayut, os militares se apresentaram como os protetores da monarquia. A entrada da princesa Ubolratana no cenário político, ainda mais pelas mãos do grande inimigo da junta, questiona este argumento.
"É algo inédito. Se [a princesa] virar primeira-ministra, o povo poderá tratá-la como simples plebeia? Quem se atreveria a criticar uma primeira-ministra da realeza?", questiona Puangthong Pawakapan, professora de Ciência Política na Universidade Chulalongkorn, de Bancoc.
De fato, a família real na Tailândia é protegida por uma lei draconiana para impedir qualquer crime de lesa-majestade. Legalmente, as irmãs do rei não são cobertas por esta lei, mas ninguém se atreve a criticá-las por medo de uma pena de prisão de vários anos.