Prisão de ex-presidente | Contra investigação, grupo de Temer falsificou dados, diz MPF do Rio
A organização criminosa que Michel Temer (MDB) é suspeito de comandar vigiou policiais e falsificou documentos para atrapalhar investigações. É o que o dizem os procuradores Lava Jato no Rio de Janeiro na ação que baseou a decisão do juiz Marcelo Bretas de prender o ex-presidente.
Segundo os membros do MPF-RJ (Ministério Público Federal no Rio de Janeiro), a quadrilha supostamente chefiada por Temer tinha membros dedicados a operações de contrainteligência. Esse braço da organização destruía provas, apagava rastros e produzia documentos "com o intuito de despistar as descobertas investigatórias".
A estratégia seria coordenada por João Batista Lima Filho, o coronel Lima, que também é suspeito de ser o operador financeiro do ex-presidente.
Lima é ex-policial militar. Por isso, segundo membros da Lava Jato, ele sabia como atrapalhar o trabalho da polícia.
No pedido de liberdade do ex-presidente Michel Temer (MDB) junto à segunda instância, a defesa do político fez uma série de críticas à decisão do juiz Bretas. A ação seria "ilegal", "desnecessária" e não teria sustentação, na visão dos advogados.
Para a defesa, a liberdade de Temer não coloca em risco as investigações. Eles ainda sustentam que o ex-presidente "nunca integrou organização criminosa nem praticou outras modalidades de crime, muito menos constitui ameaça à ordem pública".
Monitoramento de policiais
Segundo o MPF, em 2017, durante investigação autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), foram encontrados em endereços ligados ao ex-presidente anotações com nome de policiais federais que apuravam suspeitas contra ele.
Um dos nomes citados no documento apreendido é o do delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pelo inquérito que investiga Temer por suspeitas de corrupção envolvendo portos. Lopes também participou da operação que prendeu o ex-presidente na quinta (21).
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"Havia vigilância da organização criminosa de quem eram os policiais que estavam atuando na investigação", informou o órgão. "Foram encontrados documentos nos endereços alvos de busca em que eram identificados detalhes dos policiais e autoridades policiais envolvidas nas investigações."
Foi encontrado também um documento digital com comentários sobre um relatório da PF. Nele, há supostas explicações de investigados sobre itens apreendidos e sobre observações de investigadores. Há, inclusive, comentários sobre a reforma da casa de filha de Temer, Maristela, que pode ter sido paga com propinas destinadas ao ex-presidente.
"Faxinas" para apagar pistas
Ainda de acordo com o MPF, depois que Temer passou a ser investigado, a sede da empresa Argeplan, usada para o pagamento de propinas ao ex-presidente, começou a receber faxinas diárias. A limpeza teria como objetivo esconder ou destruir pistas contra crimes.
Um relatório da PF citado na ação do MPF apontou que, quando policiais estiveram na Argeplan, não encontraram documentos tidos como importantes. Alguns deles só foram apreendidos em "compartimentos secretos" e até em um quarto de bebê da casa de um dos investigados.
Ainda segundo o MPF, policiais que estiveram na empresa notaram que o escritório de um diretor da companhia, suspeito de integrar a organização criminosa, estava praticamente vazio. A suspeita é que o local tenha sido esvaziado justamente para dificultar as investigações.
21.mar.2019 - O ex-ministro Moreira Franco também foi preso preventivamente na mesma operação que prendeu o ex-presidente Temer Imagem: Alexandre Brum/Agência O Dia/Estadão ConteúdoFraude de documentos
O MPF informou também que a quadrilha fraudou um documento para despistar investigadores. Policiais encontraram durante a operação Skala, deflagrada em 29 de março do ano passado, a"9ª alteração contratual em nome da AF Consult".
O documento é 7 de março também de 2018, ou seja, de dias antes da operação. Nele, a Argeplan transfere toda sua participação societária na AF Consult para a empresa AF Consult - Switzerland Ltda.
Para o MPF, ele é só uma tentativa de livrar Temer e outros membros da quadrilha ligados a Argeplan da investigação.
"Tudo indica que este documento tem como finalidade tentar livrar os membros da organização criminosa dos núcleos políticos e financeiro de qualquer culpa pelos crimes cometidos", informou o MPF. "Provavelmente a produção deste documento se deu após o setor de contrainteligência ter informações do estado das investigações."
Temer agiu pessoalmente, diz investigação
O MPF apontou que o próprio ex-presidente Temer agiu pessoalmente para atrapalhar as investigações. Segundo o órgão, ele cancelou uma linha telefônica cadastrada no endereço de empresas investigadas após o início das apurações.
A linha havia sido ativada em 2001. Foi cancelada em setembro de 2017, "apenas alguns meses após a deflagração das investigações envolvendo obras em Angra dos Reis (RJ)", segundo o MPF.
"Trata-se de mais uma postura ativa e pessoal (diretamente ou a seu mando) de procurar atrapalhar as investigações, sendo que, isto tudo o que se narrou também fundamenta a decretação de prisão preventiva de Michel Temer", argumentou o MPF.