Prisão está fazendo mal a Lula, diz Doria; políticos comentam entrevista

A entrevista exclusiva concedida pelo ex-presidente Lula, nesta sexta-feira (26), à Folha e ao jornal El País foi alvo de comentários de políticos que criticam e também apoiam o petista, preso desde abril de 2018. 

O governador tucano João Doria, de São Paulo, rebateu a declaração do ex-presidente de que o PT seria o único partido que existe nesse país e que o PSDB foi dizimado. 

“A prisão está fazendo muito mal ao presidente Lula", afirmou Doria, durante encontro com governadores do Sul e do Sudeste no Palácio dos Bandeirantes, neste sábado (27).

"Além de mais desinformado, por óbvio, ele é um prisioneiro. Está fazendo muito mal porque ele está esclerosando, o ex-presidente da República. E obviamente de fez essa afirmativa sem reconhecer as derrotas que seu partido sofreu nas últimas eleições, inclusive aqui em São Paulo, onde eu, prazerosamente, derrotei o PT duas vezes", declarou. 

"E pessoalmente entendo, não obstante a Justiça ter autorizado, como cidadão me cria indignação que um presidiário tenha autorização para dar entrevistas a veículos de comunicação, sobretudo com a seriedade da Folha de S.Paulo”, disse. 

Também neste sábado, o presidente Jair Bolsonaro retrucou crítica do ex-presidente de que o Brasil está sendo governado por “um bando de malucos”.

“Pelo menos não é um bando de cachaceiros, né?”, respondeu Bolsonaro neste sábado (27). 

“Olha, eu acho que o Lula, primeiro, não deveria falar. Falou besteira. Maluco? Quem era o time dele? Grande parte está preso ou está sendo processado”, disse o presidente.

Para ele, “é um equívoco, um erro da Justiça ter dado o direito a dar uma entrevista. Presidiário tem que cumprir sua pena e não dar alteração”.

No final da manhã, Bolsonaro voltou a fazer provocação Twitter: "O consumo de bebida alcoólica é proibido na cadeia. Boa tarde a todos!", escreveu. 

Aliados de Bolsonaro também comentaram a fala de Lula de que o país está sendo governado por um bando de malucos.

Nas redes sociais, o senador Major Olímpio (PSL-SP) chamou Lula de bandido e disse que governistas poderiam até ser internados, mas que jamais estariam presos como o petista. O senador classificou as falas de Lula como besteiras e disse que ele havia perdido a consciência.

"Ouvir essa besteira do Lula e que dorme de cabeça tranquila depois de roubar tanto e causar sofrimento na vida de brasileiros mostra que perdeu de vez a consciência, se é que restava alguma", escreveu. "Podemos até ser internados, mas não estaremos jamais jogando dominó na cela."

Em declaração à Folha nesta tarde, Olímpio também repudiou as críticas de Lula sobre membros da Lava Jato. “Ele disse que Deltan Dallagnol [procurador da Lava Jato] e [o ex-juiz da operação e hoje ministro da Justiça, Sergio] Moro não dormem tranquilos. Eu acho que eles não fizeram nada mais, nada menos que a obrigação funcional deles, de acusar e condenar o pior criminoso da história do Brasil”, disse o senador Major Olímpio (PSL-SP).

“Tomara Deus que [Lula] apodreça na cadeia, porque é tão insensível que continua o mesmo, prepotente, desdenhando da Justiça, sem sinal de arrependimento ou recuperação”, completou Olímpio. “Ele é perigoso para a sociedade.”​

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) disse que Lula "não tem moral nenhuma para falar de qualquer pessoa que seja".

"É difícil o Lula falar sobre loucura, uma pessoa que falava que era a alma mais honesta do mundo e está preso por corrupção", disse.

"A questão toda é que ele não vai sair da cadeia. Com os anos todos de cadeia que vão somar [à sua pena se tiver novas condenações], ele vai morrer lá. E espero que ele viva bastante para curtir bastante a cadeia."

“O governo tem louco, mas não tem ladrão. Ladrão era no governo deles”, disse o deputado Delegado Waldir (PSL-GO), líder do PSL na Câmara.

“Shakespeare, Chaplin a seu tempo também eram considerados loucos. A gente fica feliz com essa comparação, louco com muito orgulho. Um ministério técnico, com pouco mais de 90 dias [apresentamos] uma reforma da Previdência, um pacote anticrime, espantamos do Brasil criminosos que o Lula deixou aqui”, disse Waldir.

“Prefiro ser louco a ser ladrão.”

Também do partido governista, a deputada federal Bia Kicis chamou Lula de psicopata. Ela aponta que Lula foi condenado pelo ex-juiz Sergio Moro, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região e pelo Superior Tribunal de Justiça. Segundo ela, Lula se faz de perseguido político. 

Outros políticos criticaram também a própria realização da entrevista, uma vez que Lula está preso. 
Para o MBL (Movimento Brasil Livre), a Folha e o jornal El País "montaram um palanque para o maior bandido da história do Brasil falar falar o que ele quiser".

O ex-senador Magno Malta (PR-ES) também criticou a autorização concedida pelo Judiciário para que Lula fosse entrevistado. Para o senador, em nenhum lugar do mundo um sujeito preso é autorizado a dar entrevistas. A prática, porém, é comum internacionalmente. 

O ex-candidato a presidente João Amoedo (Novo) afirmou que Lula não tem legitimidade para analisar a política e o governo Bolsonaro.

“As opiniões de um político que foi condenado em três instâncias, cujo partido participou de um grande esquema de corrupção e que apoiou medidas econômicas que colocaram o Brasil em sua maior recessão, não têm credibilidade e portanto não merecem  ser avaliadas”, disse.

Apoiadores

Já no espectro político de apoio ao ex-presidente, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, chamou Lula de estadista e enalteceu suas falas. Para ela, a força e firmeza de Lula ao falar justificam sua inelegibilidade na última candidatura à presidência, em 2018, ano em que ele foi preso.

Candidato pelo PT na última eleição, Fernando Haddad criticou a imprensa que, segundo ele, deu pouca cobertura à primeira entrevista de Lula na prisão. Haddad elogiou a força do ex-presidente. 

O ex-deputado Jean Wyllys (PSOL) disse ainda que a entrevista causou impacto internacional. Para ele, isso permitiria inferir que a história reservaria um lugar menor ao "minúsculo juiz que o condenou injustamente".

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), também usou as redes sociais para elogiar a altivez de Lula e sua defesa à pátria. Ele destacou um trecho da entrevista em que o ex-presidente critica Jair Bolsonaro por bater continência à bandeira dos Estados Unidos e dizer que ama o país americano. 

 

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