Produtor de trigo do Paraná está pouco animado e área de plantio cai
O produtor de trigo vem perdendo o ânimo neste ano. A cultura do cereal é sempre uma lavoura de risco e, além dos tradicionais problemas internos, o produtor vai depender de fatores externos.
As pressões que vêm de fora são produção recorde na vizinha Argentina e abertura de mercado, sem a alíquota de 10% para grandes produtores, como os Estados Unidos.
O resultado é que os triticultores do Paraná, principal estado produtor no Brasil, vão reduzir a área de plantio em 6% neste ano, mesmo com os atuais preços compensadores.
Hugo Godinho, analista de trigo do Deral (Departamento de Economia Rural) da Secretaria de Agricultura do Paraná, diz que as condições de plantio deste ano são melhores do que as de 2018.
Mesmo assim, parte dos produtores não se sentem animados. Há um temor de que o preço atual, embora remunerador, não se sustente com uma eventual queda do dólar e incentivo às importações.
O analista do Deral cita três fatores internos, além dos externos, que preocupam o produtor: falta de liquidez na hora da venda, eventual baixa da qualidade do cereal e custos elevados.
O preço atual é remunerador. A saca, negociada a R$ 48 no Paraná, está 35% acima da de 2018 e supera os R$ 45 do custo de produção atual.
“O trigo, porém, é uma cultura de apostas”, diz Godinho. O produtor faz as contas e, às vezes, conclui que a opção pelo produto não vale o risco.
A área a ser destinada ao trigo no Paraná deverá ser reduzida para 1,03 milhão de hectares, mas o produtor ainda tem até o final de julho para decidir sobre o plantio.
Dentro dos padrões normais de produção do estado, a área a ser semeada deverá render 3,3 milhões de toneladas.
Embora a área do ano passado tenha sido maior do que a prevista para este, a produção em 2018 foi de apenas 2,8 milhões de toneladas, devido ao clima desfavorável à lavoura.
Estimativas da Bolsa de Cereais de Buenos Aires indicam crescimento de área no plantio de 2019/20 na Argentina. A produção deverá superar 20 milhões de toneladas, acima dos 19 milhões deste ano.
Outra preocupação do produtor são as oscilações do dólar e as possíveis importações do cereal dos Estados Unidos e do Canadá.
Além disso, com essa mudança de alíquotas de importação feita pelo governo durante a visita aos Estados Unidos, volta o eterno fantasma da Rússia, segundo Godinho.
PECUÁRIA GARANTE
O valor bruto do que será produzido pelo país neste ano nos setores de lavoura e de pecuária cresce. Essa evolução, porém, estará concentrada basicamente na pecuária. José Gasques, do Ministério da Agricultura, diz que o VBP (Valor Bruto da Produção) dos 17 produtos de lavoura e dos 6 de pecuária que foram analisados pelo ministério somará R$ 589 bilhões neste ano. Enquanto as lavouras devem render R$ 392 bilhões, o mesmo valor de 2018, a pecuária poderá somar R$ 196 bilhões no período.
Grito da revolta O produtor de soja e de milho de Mato Grosso se diz cansado da má gestão dos recursos públicos e lançou o movimento “Mato Grosso forte, quem paga imposto cobra resultado”.
Mudança de rumo Para Antonio Galvan, da Aprosoja, é necessário que o governo se conscientize da necessidade de aplicar recursos do Fethab —recolhidos por produtores para a infraestrutura— na infraestrutura do estado.
Armazém cheio Pelo menos 100 milhões de toneladas de soja já saíram da lavoura para os silos. A estimativa é da AgRural, agência que prevê produção próxima de 115 milhões de toneladas nesta safra.
Pressão do tomate A inflação dos produtos agropecuários tem alta de 6% no atacado neste ano, aponta a FGV. Em abril, a variação foi de 1,9%, com pressões do tomate (mais 40%) e das aves (7%).