Proteção de dados é a principal agenda de tecnologia, diz presidente da IBM
Prestes a completar 102 anos no Brasil, a IBM concentra esforços em inteligência artificial (IA) e diferentes soluções na computação em nuvem para buscar a liderança do segmento no país, onde além de competir com outras gigantes, como Google, Microsoft e Amazon, disputa o mercado com empresas de nicho.
Uma das principais protagonistas no debate sobre ética e inteligência artificial lá fora, a empresa investe em educação na área por aqui. Em meio à crise da educação, avalia projetos de universidades para escolher uma parceira para o centro criado com a Fapesp, dedicado à pesquisa em engenharia e IA.
À frente da IBM Brasil desde janeiro de 2018, Tonny Martins afirma, em entrevista à Folha, que a principal agenda da tecnologia hoje é a proteção de dados e a segurança.
A empresa conversa com o governo sobre o assunto —que assim com o setor privado precisará estar se adequar ao marco da privacidade —, mas diz que o pleito de regulação não é seu, mas do setor.
Qual o foco da IBM no Brasil hoje?
Nosso grande objetivo é seguir liderando a agenda de transformação digital dos clientes. De forma modesta, temos feito isso muito bem no Brasil. Definimos há três anos que íamos tomar a liderança com inteligência artificial no centro para todas empresas, pequenas, médias e grandes, e escalar isso.
A IBM passou por todas as ondas tecnológicas, mas perde financeiramente para outras gigantes. A computação em nuvem e IA são a grande aposta?
Temos liderado essa transformação com IA e computação em nuvem empresarial. Posso falar do Brasil, onde nossa estratégia, diferentemente de outras empresas, é uma abordagem de nuvem híbrida, de nuvem pública com a privada, de workloads mais complexas. Acreditamos que o mundo será cada vez mais híbrido, com múltiplas nuvens.
Empresas mais avançadas estão com três e cinco nuvens, então três e cinco provedores. No futuro, terão que orquestrar esses diferentes espaços. Temos diferencial competitivo muito grande em ajudar a gerenciar tudo isso. Tem que ter conhecimento de indústria, processos, de arquitetura, de aplicação e infraestrutura.
Vocês passaram por diferentes conjunturas no Brasil, como enxergam o momento para os negócios?
Estando no Brasil há quase 102 anos, sempre reforçamos nosso compromisso em ajudar o país e o mercado a se desenvolver. Passamos por diferentes ciclos econômicos e sociais e enxergamos com otimismo.
A tecnologia veio para transformar o mercado e democratizar o uso de serviços básicos, como educação e saúde. A gente acredita que existem múltiplas possibilidades e, claro, fazendo as reformas estruturais tão importantes para o país, associado a uma agenda de tecnologia que traga maior competitividade.
Qual a agenda de tecnologia?
Temos conversado com múltiplos setores. Digo que educação. Temos o PTECH, programa de ensino que desenvolvemos porque há um déficit muito grande de habilidades e conhecimento em áreas para ocupar vagas de tecnologia. Fizemos parceria com Centro Paula Souza, começando por São Paulo, que ajuda na formação e na definição do currículo para fechar esse gap.
Temos parceria com a Fapesp, criamos um dos maiores centros de desenvolvimento de soluções de IA para determinados setores, como financeiro, de agronegócio, recursos naturais e saúde, em 2018. Agora vamos eleger as universidades. Criamos o primeiro centro avançado de soluções em blockchain para mercado latino-americano. Começamos a discutir com o governo o aumento da eficiência e qualidade serviço a partir de IA para trazer impacto a diversos governos.
Empresas menores querem isenção, e as grandes?
Nosso principal tema na agenda hoje é a Lei Geral de Proteção de Dados. A gente entende que temos um papel fundamental para ajudar empresas a se prepararem em um prazo curto para estarem de acordo com a lei, que vai trazer benefícios para sociedade.
Entendemos que há dois temas fundamentais. A privacidade, com a lei de proteção de dados, porque nossas vidas e negócios estão no mundo digital e a gente precisa de algo que regule muito bem esse processo. O segundo é uma agenda de segurança. Garantir segurança sistêmica empresarial, pessoal e governamental com a sofisticação do cibercrime é fundamental.
Como garantir que o debate de ética e inteligência artificial não seja restrito ao setor privado?
Por termos amadurecido antes nesse assunto, iniciamos a discussão de ética e bias nos algoritmos de IA. Criamos a primeira plataforma que ajuda na identificação de vieses, fomos a primeira que lançou isso, mas esse tema não é de uma empresa.
É preciso disponibilizar as plataformas, as capacidades e o conhecimento para que os participantes tenham oportunidade de criar algo que seja transparente e ético nas soluções que envolvem tomada de decisão. Disponibilizamos isso para que, no momento em que governo, empresas ou a sociedade participem da construção, esse algoritmo tenha mecanismos de transparência e que isso não seja uma caixa preta. A inteligência artificial vai além de uma solução que seja mágica pronta e caixa preta. As empresas têm obrigação de criar algo que seja sustentável ao longo do tempo.
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