Quadras de tênis viram tela para artistas nos EUA
Os cortes de cabelo e as tendências de moda dos tenistas evoluíram dramaticamente com o tempo, mas as quadras em geral ficaram iguais. Há mais de um século elas são monocromáticas, com linhas brancas delineando claramente áreas medidas com precisão. A uniformidade das quadras é essencial para facilitar a criatividade que ocorre nelas.
Mas este ano, alguns artistas desordenaram essas quadras ordeiras, em cinco cidades: Miami, Los Angeles, Chicago, Cincinnati e Nova York. Na quadra de Miami, o centro da rede parece emitir raios ousados, que formam gigantescos corações multicoloridos. Em Chicago, os jogadores correm entre formas parecidas com as de folhas, em tons variados de verde. E em Brooklyn as quadras do Hughland Park foram reinauguradas no sábado com textos em letras ousadas que lembram histórias em quadrinhos, como nos quadros de Roy Lichtenstein.
O projeto, Art Courts, foi promovido pela Associação de Tênis dos Estados Unidos como parte da celebração do 50º aniversário do Aberto dos Estados Unidos. Os organizadores querem injetar algum entusiasmo e cor nas quadras de tênis comunitárias em bairros desprovidos de instalações esportivas - bem como animar um pouco um esporte que muita gente vê como careta e apegado demais a regras.
O projeto foi financiado pelo banco Chase, como parte de um programa de apoio ao tênis juvenil em valor de US$ 500 mil. Cinco artistas foram encarregados de criar designs para quadras reformadas, usadas pelo público e para treinar juvenis, entre os quais Justus Roe, de Chicago; a dupla KiiK Create (Manoela del Pilar Madera Nadal e David Gray Edgerton), de Miami; e Charlie Edmiston, de Los Angeles.
Sen2 Figueroa, artista nascido em Porto Rico e conhecido por seus grafites, foi escolhido para criar designs para oito quadras no Highland Park, em Cypress Hills, Brooklyn. Em um dos primeiros esboços, ele tentou moderar seu estilo, usualmente muito vistoso. "Tentei fazer algo com o mínimo de cor, para manter os jogadores interessados no jogo", ele disse em entrevista por telefone. Mas os organizadores o incentivaram a manter sua estética, inspirada na arte pop. E assim ele criou um novo design, com letras vermelhas brilhantes que dizem "BAM". Um enorme desenho de um olho cobre duas das quadras.
Mas fazer o trabalho prático foi um desafio de outra ordem. Diante de cavaletes ou de paredes, Figueroa costuma trabalhar em pé, com latas de spray; o projeto das quadras exigia que trabalhasse de joelhos, com rolos, e que usasse um tipo de tinta criado especificamente para propiciar suavidade e durabilidade, e resistir ao constante desgaste do contato com os solados dos tenistas. Ele e o colega James Rodriguez disseram ter trabalhado por quase três dias, 12 horas ao dia, para concluir o projeto.
"Foi um dos projetos mais difíceis da minha vida, mas me diverti com ele", disse Figueroa. "Queria um visual bem aguçado. Não foi pelo dinheiro; quero que as pessoas apreciem os detalhes".
Os organizadores dizem que as quadras não serão usadas para partidas oficiais, e sim para treinos e pelo público. Jose Rodriguez, professor de tênis no Highland Park, disse em entrevista que a arte das quadras, em lugar de distrair, pode na verdade ajudar em suas aulas.
"O tênis é um esporte de concentração; a parte mental é muito importante", ele disse. "Acho que podemos usar a arte como alvo".
Tradução de Paulo Migliacci