Rede anuncia fim dos ovos de galinhas confinadas até 2028
Maior rede de varejo do país, o Carrefour anunciou que vai se alinhar a uma tendência internacional de comercializar apenas ovos de galinhas criadas sem gaiolas até 2028, em todas as suas lojas.
Numa primeira fase, até 2025, a medida será aplicada para as marcas próprias da casa, como o selo Sabor e Qualidade. A empresa já comercializa ovos caipiras e orgânicos, como por exemplo os da marca Korin, mas o maior volume hoje ainda é de ovos de granja, em sistema tradicional.
O sistema tradicional confina os animais em locais minúsculos onde não podem se movimentar, se alimentam de ração ininterruptamente e são arrancados seus bicos.
Comparações entre nutrientes dos ovos criados em sistemas diferentes apontam maior quantidade de vitaminas nas galinhas que ciscam livremente e podem se alimentar conforme sua vontade.
O compromisso do Carrefour foi estabelecido também nas lojas de países da Europa como França, Itália, Polônia, Bélgica, Espanha e Romênia.
O sistema livre de gaiolas é uma bandeira dos militantes contra a crueldade animal e pelo consumo consciente. Organizações como o Mercy for Animals, Animal Equality, Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal e Humane Society International documentam os maus tratos sofridos pelas aves para pressionar consumidores e produtores a eliminar esse tipo de criação.
Para Lucas Alvarenga, vice-Presidente da Mercy For Animals no Brasil, o compromisso ajudará a "reduzir o sofrimento extremo de milhões de animais, além de ser um importante exemplo para que outras empresas implantem políticas semelhantes. Esperamos que os demais grandes grupos, como Walmart e Grupo Pão de Açúcar, também assumam esse compromisso".
Segundo relatório da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o Brasil produziu em 2016 39 bilhões de unidades, sendo que apenas 0,43% da produção foi exportado. Naquele ano, o consumo per capita do brasileiro foi de 190 ovos.
O Carrefour tem 20 fornecedores atuais de ovos. Considerando o volume total de ovos vendidos atualmente pela rede, se o compromisso final para 2028 fosse implementado hoje, mais de 700.000 galinhas seriam retiradas das gaiolas.
TIPOS DE OVOS
OVO DE GRANJA INDUSTRIAL
As galinhas ficam confinadas sem espaço para se mover nas gaiolas. Os animais têm seus bicos cortados como forma de aumentar a produtividade. Como são alimentadas com ração, é possível obter manejar a produção de ovos com acréscimo de vitaminas ou outros aditivos.
OVO CAIPIRA
Para a produção do ovo caipira, as galinhas têm de ser criadas fora de gaiolas, ciscando livremente, e devem se alimentar de ração vegetal, sem adição de corante. As galinhas não podem receber complementos, hormônios, antibióticos ou outros remédios.
OVO ORGÂNICO
Para ser considerado orgânico, a criação das galinhas tem de ser sem gaiolas e a alimentação integralmente orgânica, sem uso de agrotóxico ou fertilizante químico. As galinhas não podem receber complementos, hormônios, antibióticos ou outros remédios. Não podem sofrer debicagem e nem confinamento. O produtor precisa receber uma certificação específica de alimento orgânico conforme padrões estabelecidos no setor.
A rede deve atuar junto aos fornecedores para que modifiquem os espaços e os mecanismos de criação a fim de adotar o sistema sem gaiolas. Para isso, promete auxiliar na obtenção de linhas de crédito e na contratação de técnicos para orientar a transição.
No compromisso anunciado no último dia 13, o Carrefour afirma que vai atuar para elaborar um protocolo com as diretrizes do sistema sem gaiolas a ser discutido nas associações do setor como a Abras (de supermercados) e a ABPA.
A empresa trabalha com a ideia de que o sistema de produção sem gaiolas pode aumentar o custo final dos ovos em 15% a 20% logo após a transição, mas este custo deve se diluir no médio prazo, quando o ovo produzido sem gaiolas deixará de ser "e nicho" e passará a ser considerado o padrão.
Pesquisa encomendada pela ONG Mercy For Animals apontou que 81% das pessoas se preocupam com a forma como os animais são tratados pela indústria alimentícia. 72% acham que o consumidor deveria estar ciente sobre a crueldade contra animais envolvida na produção de comida e, para 57%, restaurantes e supermercados deveriam parar de oferecer produtos que envolvem sofrimento para os animais.
A pesquisa foi realizada pelo instituto Ipsos em 2017, com 1001 internautas de ambos os sexos, com 18 anos ou mais, e tem margem de erro de 3 pontos percentuais. Além de perguntas genéricas, o questionário exibia uma foto do sistema de produção de ovos com as gaiolas.
Perguntados sobre o que achavam do confinamento de galinhas em gaiolas limitando seus movimentos, 63% dos entrevistados consideraram absolutamente inaceitável tal procedimento, 19% parcialmente aceitável, 9% não tinham opinião, 7% achavam parcialmente aceitável e 3% absolutamente aceitável.