Rede social surge como a quinta esfera de poder na nova política do país

A nova configuração do Congresso para a atual legislatura, marcada pelo alto percentual de renovação no Senado e na Câmara dos Deputados, demarca também uma mudança na relação entre eleitores e eleitos decorrente do impacto das redes sociais nos resultados das urnas, no ano passado.

 

Saem muitos nomes antigos e reconhecidos do jogo político em Brasília e entram novos atores capitalizados pela interlocução direta com a sociedade civil na internet, fazendo com que a representação política seja muito mais permeável à pressão pelas redes.

Isso influenciará o resultado de votações e a condução das reformas do governo junto a aliados e oposição, da mesma forma impactando no cálculo de risco dos agentes privados em geral.

O processo de construção de ações coletivas a partir das redes sociais é facilitado, para o bem e para o mal, pela possibilidade de microcontribuições em tempo real de cidadãos pelas diversas plataformas e, principalmente, de influenciadores digitais que intensificam a ação coletiva digital, alterando os resultados do debate político.

Na eleição para presidente do Senado, aqui utilizada como proxy do que está por vir, pôde-se observar um preâmbulo da força da web sobre as decisões centrais no parlamento logo na abertura da sessão legislativa, com a chegada de Davi Alcolumbre (DEM-AP) à presidência da Casa.

Entre sexta-feira (1º) e sábado (2), quando, após adiamento, foram feitas duas rodadas de votação, o ator de maior repercussão nas redes sociais foi Renan Calheiros (MDB-AL), citado 1,6 milhão de vezes no Twitter, conforme mostra o gráfico abaixo.

Em espaço de poucas horas naquela tarde de sábado, sucederam-se alterações no debate sobre o Senado, com as redes respondendo rapidamente a cada novo acontecimento. Das 16h às 19h, o senador de Alagoas foi citado 203,7 mil vezes, das quais 50 mil entre 17h30 e 18h ou seja, precisamente quando abre mão da candidatura a presidente.

No desenrolar da disputa, não apenas Renan Calheiros, como nomes eleitos pela primeira vez em 2018, intercalaram a participação política em Brasília com a interação política nas redes.

Por exemplo, Jorge Kajuru (PSB-GO), que abriu enquete para decidir em quem votaria, e, com maior relevância, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), cuja declaração de voto em Alcolumbre (após manter sigilo no voto da primeira rodada) foi decisiva para o resultado final e decorreu amplamente da resposta da internet à opção inicial pelo voto secreto.

Simultaneamente ao período da tarde de sábado em que Renan mais foi citado no Twitter, Flávio também obteve destaque, com um total de 38,4 mil menções das 16h às 19h, dos quais 12 mil foram publicados das 17h30 às 18h. Às 17h35, o senador abriu o voto em Davi Alcolumbre na rede social, após mensagem publicada às 16h20 em que justificava escolha inicial pelo voto secreto.

Também foi com maior vigor que se manifestou, nesse breve intervalo de tempo, a importância dos influenciadores para as ações coletivas nas redes. Foram eles que catalisaram as modificações na discussão política da internet, com efeito direto no plenário.

A fotografia das redes sobre os eventos no Senado, minuto a minuto, é evidenciada pelo gráfico abaixo:

Essa primeira (e expressiva) demonstração da força dos canais digitais sobre os parlamentares não passa despercebida dos nomes experientes da política. Por isso, o reeleito presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acerta ao enfatizar que o Congresso deve se aproximar da sociedade, inclusive com maior uso de plataformas digitais.

Mas, junto dessa maior aproximação, surgem perguntas: será a política, a partir de agora, mais previsível? Que papel têm os influenciadores digitais na democracia? Distorcem-na ou operam como “líderes de torcida” da web? Como as instituições operam neste novo cenário? Como o mercado avalia tendências em cenário mais complexo ainda?

Mais do que nunca, a mobilização do cidadão na política se faz intensa em um contínuo, e não somente no entorno dos pleitos, gerando uma complexidade inaudita para a comunicação das instituições e a análise de risco. De toda forma, um fato é indisputável: para além das três esferas canônicas de Poder e da imprensa, surge um quinto. Vê-se, em síntese, que esse Poder na nova política é a rede.

 

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