Redução de vantagem e sinais do Sudeste prometem moderar a onda Bolsonaro
A onda de direita que varreu o Brasil no primeiro turno, há paleolíticos 20 dias, perdeu um pouco de sua tração na véspera da decisão da eleição mais conturbada desde a redemocratização de 1985.
Claro, o Congresso com novo perfil está eleito e Jair Bolsonaro (PSL) está com as duas mãos na faixa presidencial. Mas a sinalização de um eleitorado polarizado é visível, pelo que apontam as pesquisas do Datafolha divulgadas neste sábado (27).
Os dez pontos que o Datafolha indica de vantagem ao capitão reformado do Exército são confortáveis, sujeitos apenas a uma onda que as curvas até aqui não permitem antever. Mas é a menor distância entre os dois candidatos neste segundo turno, e poderá ser ainda mais encurtada neste domingo (28).
Com isso, a ala do entorno de Bolsonaro que prega a moderação no caso de uma eventual vitória, que vinha sendo solapada pela subida de tom do candidato na reta final da campanha, poderá ganhar argumentos.
A rejeição de 45% do eleitorado a seu nome vem acompanhada de uma personalização de repulsa que não se via desde o ocaso de Eduardo Cunha ou, para os mais velhos, desde o ápice do antimalufismo. A seu modo, Bolsonaro se tornou uma figura tão polarizante quanto a de seu antípoda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No maior colégio eleitoral do país, o gás com que o governador Márcio França (PSB) chega ao dia da eleição em São Paulo é um caso de estudo. A rejeição a João Doria (PSDB) e eventos como o vídeo de conteúdo sexual são fatores, mas se houve um candidato que investiu tudo na associação com Bolsonaro no segundo turno foi o tucano.
Perdendo, ou ganhando com dificuldade, o ex-prefeito paulistano será um sinal de alerta ao capitão, que espertamente não declarou seu apoio ao voto BolsoDoria.
Há outros sinais. Se Bolsonaro também não embarcou no apoio a Wilson Witzel (PSC) no Rio de Janeiro, é indiscutível que o ex-juiz só foi a sensação do primeiro turno pela associação que forçou com o presidenciável. Acabou bastante exposto e agora vê Eduardo Paes (DEM), jovem ícone da velha política, chegar com força para tentar virar a disputa.
O contraste vem do terceiro campo de batalha do Sudeste, Minas Gerais. Ali, Romeu Zema (Novo) surfou a onda antissistema à direita capitaneada por Bolsonaro e ruma para liquidar a fatura de forma humilhante ao senador e ex-governador Antonio Anastasia (PSDB), que deve estar se perguntando até agora por que aceitou a missão de concorrer, que tanto rejeitava.
Pelo resto do país, como em Santa Catarina, há sinais de que a onda bolsonarista veio para ficar. Mas o mandato talvez não seja tão unânime quanto gostariam seus comandantes.