Retaliação da Índia contra Paquistão aumenta popularidade de Modi
Algumas horas após o governo indiano anunciar ataques aéreos dentro do território paquistanês, em retaliação a um atentado terrorista na Caxemira que matou 40 soldados indianos, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, fez um comício no estado do Rajastão.
“Eu garanto a vocês, o país está seguro”, disse Modi no palanque, em frente a uma colagem de fotos dos soldados indianos mortos no ataque.
“Eu não vou deixar que o país seja destruído, que o país pare, ou que o país se curve. Eu saúdo as Forças Armadas e todos os indianos.”
Ao redor do país, muitos indianos foram às ruas com bandeiras e faixas para festejar o ataque contra o Paquistão, arqui-inimigo da Índia. Canais de TV a cabo como o Times Now estampavam slogans patrióticos como “Momento de orgulho para a invencível Bharat (Índia em hindi)”.
Ainda há muitas incertezas ainda sobre o ataque. O Paquistão afirma que os jatos indianos saíram em retirada rapidamente, não acertaram nenhum centro de treinamento de jihadistas e que não houve vítimas.
A Índia diz ter destruído o maior campo de treinamento de militantes, matando centenas de terroristas das facção Jaish-e-Mohammad mortos.
Mas uma coisa é certa: a onda de patriotismo que tomou a Índia impele a popularidade do primeiro-ministro Modi a menos de três meses de uma disputada eleição geral.
A grande aposta é que, na hora do voto, o nacionalismo vai pesar mais do que as preocupações com o desemprego recorde no país e a queda da renda dos agricultores, em uma nação onde 66% da população ainda vive na zona rural.
A disputa entre Índia e Paquistão pela Caxemira e o apoio do governo paquistanês a facções extremistas que fazem seguidos ataques terroristas dentro do território indiano são questões explosivas.
Os dois países disputam a Caxemira desde 1947, quando houve a grande Partição da Índia —quando a maioria dos hindus se abrigaram no território que é hoje indiano, e os muçulmanos no atual Paquistão, com quase 1 milhão de mortos em meio ao deslocamento caótico de milhares de pessoas.
A princípio, o estado da Caxemira, de maioria muçulmana mas governado por um marajá hindu, quis ser independente e não se ligar nem à índia, nem ao Paquistão.
Mas pouco depois, militantes apoiados pelo Paquistão invadiram a Caxemira, e o marajá pediu para o estado ser absorvido pela índia.
Daí começou a primeira das duas guerras em que os dois países disputaram o estado, além de incontáveis choques na fronteira. Hoje, parte está sob comando da índia e uma porção bem menor está sob domínio paquistanês —território dividido pela Linha de Controle, resultante da trégua entre os países.
Mas o Paquistão apoia militantes extremistas que lutam contra o domínio indiano na região e fazem atentados lá e em outros locais da índia.
Facções como a Jaish-e-Mohammad e a Lashkar i taiba estão por trás de morticínios como os atentados contra hotéis de luxo, a estação ferroviária e um centro judaico, em Mumbai em 2008, que deixaram mais de 160 mortos, e contra o Parlamento, em Nova Déli, em 2001, que matou 9.
Para Modi e seu partido, o BJP, é muito positivo que os eleitores deixem de focar a economia e passem a pensar com orgulho na força aérea indiana e no governo, que “ensinaram uma lição” ao Paquistão.
Modi ainda é o líder mais popular da Índia, mas seu partido sofreu algumas derrotas em eleições estaduais em 2018 e chega na eleição sob pressão de partidos da oposição, que tentam formar uma coalizão contra o BJP.
Analistas apontam que houve cuidado dos dois lados para evitar que a situação saia do controle. A Índia fez um ataque “não militar”, ou seja, sem alvejar as forças paquistanesas, e disse se tratar de uma ação preventiva, para evitar atentados das facções terroristas. O Paquistão, ao negar veementemente que algo foi atingido, também baixa a temperatura.
Mesmo assim, como avisou o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, haverá retribuição “no momento e local de nossa escolha”. Espera-se algo comedido, pois também não é do interesse do Paquistão, às voltas com uma crise econômica séria, entrar em uma guerra..
Mas como se sabe, essas coisas não são cartesianas.
Trocas de tiros na Linha de Controle, a fronteira de facto que divide a Caxemira indiana da paquistanesa, são comuns e ocorrem há vários anos. Mas, desde 1971 a Índia não fazia um ataque aéreo dentro do território paquistanês.
Como será a reação da Índia à retaliação paquistanesa? Como evitar que essa troca de agressões saia do controle? Sempre é bom lembrar que os dois países possuem armas nucleares.