'Rezei para as balas acabarem'; testemunhas relatam desespero em ataques na Nova Zelândia

Testemunhas relataram cenas de pavor vividas durante os ataques a duas mesquitas nesta sexta-feira (15, noite de quinta no Brasil) na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia.

Pelo menos 49 pessoas morreram e mais de 20 ficaram feridas no atentado –classificado com um ato terrorista pela primeira-ministra do país, Jacinda Ardern .

O ataque começou por volta de 13h30 (horário local), quando um homem armado, vestindo roupas escuras, abriu fogo dentro da mesquita Al Noor, onde era realizada uma sessão de oração. Sobreviventes contam que correram para salvar suas vidas.

'ESPERAR E REZAR'

Ramzan Ali, que tinha sangue nas roupas, disse à imprensa local que viu o atirador atingir um homem no peito. Ele estima que o tiroteio "durou 20 minutos".

"Eu só pensava que ele precisava ficar sem balas", declarou à emissora de televisão TVNZ. "O que eu fiz foi basicamente esperar e rezar. Deus, por favor, acabe com a munição dele."

Ele conta que o atirador supostamente atacou primeiro o salão de oração dos homens, depois se dirigiu para o salão das mulheres. "Meu irmão está lá e eu não sei se ele está seguro ou não", acrescentou.

'CENTENAS DE BALAS'

O sobrevivente Farid Ahmed, que usa cadeira de rodas, estava dentro da mesquita quando o ataque começou.

"Eu estava no salão lateral. O imã tinha começado o sermão. Todo mundo estava instalado, estava tudo calmo, tranquilo, sossegado, como costuma ser. Quando o imã começa a falar, todo mundo fica em silêncio, você pode ouvir um alfinete caindo."

"Mas, de repente, começou o tiroteio. Começou no salão principal. O atirador deve ter entrado pelo corredor principal. E eu estava no salão lateral, então não vi quem estava atirando. Mas vi que algumas pessoas estavam fugindo, passando pelo cômodo onde eu estava. Também vi algumas pessoas sangrando e mancando", conta. Foi neste momento que Ahmed percebeu que algo muito sério estava acontecendo.

"Algumas pessoas me disseram: 'Você está de cadeira de rodas, é bom sair logo'. Eu consegui então ir até os fundos, onde meu carro estava estacionado. Eu fiquei atrás do carro. E, de lá, eu conseguia ouvir tiros e mais tiros. Durou uns seis minutos ou mais. Eu ouvia gritos, gente chorando. Vi algumas pessoas caírem mortas."

Ele diz que não sabia se a esposa estava viva. "Algumas pessoas estavam fugindo, e eu estava de cadeira de rodas, não podia ir a lugar algum. E também não queria, porque estava preocupado com o que poderia acontecer com as mulheres, com a minha esposa."

Segundo ele, foram disparadas centenas de balas. "Eu vi [os cartuchos de bala] no chão, havia centenas."

Outro homem, que sobreviveu se escondendo, disse que as pessoas quebraram as janelas para escapar. "Ele começou a atirar nelas. Qualquer um que ele achava que ainda estava vivo, ele continuava atirando", contou à Radio New Zealand. "Ele não queria que ninguém sobrevivesse".

'MINHAS MÃOS TREMIAM MUITO'

Com a voz trêmula, Jill Keats, 66, afirmou que "nunca pensou que fosse presenciar algo assim, não na Nova Zelândia".

"Eu estava no meu carro. Inicialmente, achei que os estampidos eram fogos, mas em seguida vi algumas pessoas correndo e caindo à medida que eram atingidas, e então percebi que eram tiros."

"Um caiu à direita do meu carro, outro à esquerda". Ela conta que parou o carro e deitou no banco para se proteger. "Uma bala atingiu o carro de trás, mas não feriu ninguém. Abri a porta e saí do carro."

"Um dos homens caídos tinha sido atingido nas costas. Ele tentou se levantar, e arrastamos ele para trás do carro para evitar que fosse novamente atingido pelos tiros", narrou.

Do outro lado da rua, ela diz que um motorista conseguiu colocar três pessoas feridas no carro e iria levá-las ao hospital.

"O homem que arrastamos estava tentado ligar para sua mulher. Eu falei com ela e disse que o marido tinha sido ferido e que ela fosse para o hospital para onde eu iria levá-lo assim que conseguisse."

"De onde estávamos, pude ver que o outro que tinha sido atingido estava com um ferimento grave, mas infelizmente não conseguimos chegar até ele pois estava na linha de tiro."

"Pouco depois ele ficou imóvel e depois me disseram que tinha morrido."

MESQUITA DE LINWOOD

Na mesquita de Linwood, que também foi alvo de ataque, sobreviventes disseram à imprensa local que viram um homem armado usando um capacete preto de motocicleta abrir fogo contra cerca de cem pessoas que estavam rezando no interior do local.

Os tiros começaram logo após o primeiro ataque na mesquita Al Noor. Syed Ahmed, uma das testemunhas, contou ao site stuff.co.nz que o atirador "gritava algo" enquanto atirava.

Ele disse que viu pelo menos oito pessoas mortas, incluindo dois amigos.

UMA CIDADE CONFINADA

O acesso a edifícios no centro da cidade e na periferia foram bloqueados —as pessoas não podem entrar, nem sair.

O gerente de um restaurante perto da mesquita Al Noor e do hospital Christchurch disse que as empresas fecharam as portas após receberem o alerta da polícia.

"Ouvimos as sirenes passando ao fundo e vimos helicópteros sobrevoando", disse Alex, da Pegasus Arms, à BBC.

"Chegaram então as notícias e recebi mensagens de amigos dizendo para ficar alerta, que havia um atirador por perto."

"Estamos apenas mantendo a TV ligada. Algumas pessoas obviamente se assustam com isso, mas em geral está tudo calmo", acrescentou.

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