Risco para a saúde pública, fake news agora trazem novas ameaças

Não bastasse o impacto direto das fake news na saúde pública, como a queda nas taxas de vacinação que tem levado ao ressurgimento de doenças como o sarampo, a divulgação de notícias falsas começa a ameaçar agora a integridade física de profissionais da saúde.

Um exemplo é o que aconteceu no município de Santa Maria (RS) no final do mês passado, quando circulou um áudio no Whatsapp afirmando que pessoas vestidas de branco estavam passando nas casas dos moradores, supostamemte para fazer exame de glicose, mas na verdade, usariam a agulha para transmitir o HIV.

Após receber o áudio, um microempresário de 49 anos gravou uma equipe de saúde na rua, com uma dentista, uma auxiliar e três estagiárias, todas vestidas de branco, e postou um vídeo em suas redes associando-as elas à suposta visita familiar para infectar pessoas.

Resultado: funcionários foram ameaçados e o atendimento domiciliar das equipes de saúde da família chegou a ser temporariamente suspenso. A  polícia agiu rápido e, por meio de câmeras de segurança, conseguiu identificar o homem.

Em depoimento, ele se disse arrependido e que não imaginava que o vídeo teria tamanha repercussão. Vai responder por calúnia, injúria, difamação e falsidade ideológica, com pena máxima de oito anos e seis meses de reclusão e multa.

Como um vírus incontrolável, a disseminação de notícias falsas continua sem dar sinais de recuo. Nem mesmo as boas iniciativas que surgiram para combatê-las, como um núcleo de monitoramento do Ministério da Saúde, que atua nas redes sociais das 6h às 23h, todos os dias da semana, para identificar a origem dessas notícias falsas, têm conseguido freá-las.

O jornalismo profissional também está empenhado nesse combate, mas, por ora, são as fake news que estão levando a melhor. Um levantamento feito pela Folha mostrou que as páginas de notícias falsas têm maior participação dos usuários nas redes sociais do que as de conteúdo jornalístico real.

Entre outubro de 2017 a janeiro de 2018, as páginas de veículos de comunicação tradicionais apresentaram queda de 17% em seu engajamento (interação), enquanto os propagadores de fake news tiveram aumento de 61%.

Um outro estudo publicado na revista Science no ano passado também concluiu que as notícias falsas se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras e alçam muito mais gente. Os pesquisadores analisaram postagens disseminadas no Twitter desde 2006, quando a rede social foi lançada, até 2017.

Foram mais de 126 mil postagens replicadas por cerca de 3 milhões de pessoas. A desinformação, associada ao conservadorismo que assola o Brasil e o mundo, em que a ciência está sendo desacreditada, acaba sendo um campo fértil para a disseminação de mentiras.

Na mesma edição da Science, há um artigo escrito por um grupo de 15 pesquisadores convocando a comunidade científica internacional a estudar as forças sociais, psicológicas e tecnológicas por trás das fake news para que possamos avançar rumo a uma nova cultura que valorize a promoção da verdade. Precisamos de todos vocês nessa empreitada. Vou ali tomar um fôlego e volto em três semanas!
 

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