Robôs fazem de ordenha mecânica a massagem em vacas holandesas
Na fazenda de Ernst van der Schans, 62, quase não se veem funcionários junto às 500 vacas leiteiras que habitam o lugar. Lá, a retirada do leite fica por conta dos próprios animais: eles mesmos se dirigem, diariamente, até uma máquina que faz a ordenha.
As vacas fazem fila diante do aparelho, uma espécie de caixa de metal ligada a um tubo grosso, por onde sai o leite, e a um monitor que acompanha a produtividade. Com um laser, a máquina encontra as tetas, encaixa as válvulas e começa a retirada.
O segredo para as vacas irem sozinhas até a ordenha mecânica é simples: é lá que encontram comida. A ração disponível no celeiro é limitada, então, quando têm fome, elas já sabem aonde ir.
Já a tecnologia por trás do equipamento não é tão simples, nem tão barata para uma empresa familiar, como é o caso da maior parte das fazendas. Cada aparelho custa por volta de 150 mil euros (R$ 715 mil), sendo necessários oito deles para cuidar dos 500 animais da fazenda, administrada pela família desde 1983.
A fazenda den Eelder, como é chamada a companhia, está localizada na região central da Holanda (a cerca de 80 quilômetros de Amsterdã). Ela é uma minoria na indústria leiteira, uma das mais tradicionais do país.
Apenas uma em cada cinco empresas aderiu à robotização, de acordo com Evert Niemeijer, gerente da empresa de maquinário holandesa Lely, que exporta para mais de 50 países, incluindo o Brasil.
A automação dos processos elevou a produtividade da companhia em mais de 10%, diz. Em média, cada uma das vacas na den Eelert produz 36,2 litros por dia.
Além das 500 vacas, há 300 bezerros. No total, seis funcionários trabalham na fazenda cuidando dos animais. Em toda a empresa, são 35, incluindo as áreas administrativas e de produção de derivados, como manteiga.
“Não tínhamos braços suficientes. Vimos que seria cada vez mais difícil conseguir mão de obra, principalmente para trabalhar na área rural, então decidimos investir na mecanização”, diz Ernst van der Schans, dono da fazenda ao lado da mulher e três filhos.
Além de retirar o leite, o equipamento também mede a temperatura do animal, avalia suas condições de saúde e avisa caso identifique qualquer problema.
Outras etapas da produção foram automatizadas, como o processamento do feno. Há até mesmo uma escova giratória, em forma de rolo, que os animais usam para “coçar” as costas.
“As vacas gostam de massagem para espantar as moscas ou tirar a areia. É pelo conforto, nada mais”, afirma Niemeijer.
Além disso, cada uma delas traz uma coleira com identificação, que além dos dados básicos traz as informações de saúde e avisa quando a vaca está pronta para uma próxima inseminação.
A modernização da fazenda também passa pela geração elétrica, composta por painéis solares fotovoltaicos e uma usina de biogás movida a esterco das vacas. Além de gerar energia, a usina movida a estrume resolve um problema ambiental que tem sido um dos mais graves para o setor nos últimos anos.
Como o volume de esterco produzido pelas 1,7 milhão de vacas holandesas é muito alto, os fazendeiros têm tido dificuldade para descartá-lo e acabam jogando-o no solo. Isso tem gerado uma super fertilização e problemas ambientais, principalmente devido à alta presença de fosfato na alimentação, que pode contaminar lençóis freáticos, explica Maarten Schans, especialista em agricultura na NFIA (Agência Holandesa de Investimentos Estrangeiros).
O problema do excesso de estrume se agravou a partir de 2015, quando a União Europeia aboliu o regime de cotas de produção de leite, e fazendeiros ampliaram o número de vacas e de esterco.
Para controlar a crise, o governo holandês passou, em 2017, a dar incentivos aos fazendeiros para reduzirem o número de vacas ou do leite vendido. Há também iniciativas para reduzir os níveis de fosfato no esterco, segundo Schans —que diz que o problema está sob controle.
Em 2016, a indústria de leite e derivados representou 19,7% da produção bruta da agricultura holandesa, em valor. Foram produzidos 14,5 bilhões de quilos de leite em 17 mil fazendas, segundo a ZuivelNL, associação que representa o setor.
Apesar de ser uma das mais tradicionais do país, a indústria não atrai novos fazendeiros, e dificilmente a nova geração entra no setor se não vier de uma família que já tenha produção. “Todo ano, 3% dos fazendeiros deixam o negócio. Muitos jovens abandonam, não é muito lucrativo.”