Rússia ameaça retaliações após Trump dizer que deixará tratado nuclear
O presidente Donald Trump afirmou que os Estados Unidos vão se retirar de um tratado sobre armas nucleares de médio alcance assinado com a Rússia na época da Guerra Fria, o que gerou ameaças por parte de Moscou de aplicar medidas de retaliação, inclusive militares.
O Tratado de Forças Nucleares de Médio Alcance (INF, na sigla em inglês), negociado em 1987 pelo então presidente americano Ronald Reagan e pelo líder soviético Mikhail Gorbachev, suprime o uso de toda uma série de mísseis com alcance entre 500 e 5.000 km. O acordo encerrou uma crise iniciada nos anos 1980 pela instalação dos SS-20 soviéticos com ogivas nucleares, que apontavam para capitais ocidentais.
Trump agora acusa a Rússia de violar o tratado "há muitos anos" e anunciou que os Estados Unidos começarão a desenvolver estas armas. "A Rússia infelizmente não honrou o acordo, então vamos terminar esse acordo e vamos sair dele”, disse a repórteres no sábado (20), após um comício em Nevada.
O americano critica a instalação por Moscou do sistema de mísseis 9M729, cujo alcance, segundo Washington, supera 500 km, violando assim o texto do INF.
O vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, rebateu as acusações e disse que Moscou respeita o acordo de “maneira estrita”. "Fomos pacientes durante anos ante as flagrantes violações do tratado pelos Estados Unidos", afirmou no domingo.
Dizendo que a saída unilateral dos EUA seria “um passo muito perigoso”, Riabkov acusou Washington de atuar de modo "torpe" e afirmou que, se o governo dos Estados Unidos continuar assim, "então não teremos outra opção a não ser adotar medidas de represália, inclusive que envolvam tecnologia militar", completou, sem entrar em detalhes.
A Rússia e a Alemanha também reagiram à declaração de Trump. O governo alemão disse, por meio de um porta-voz, que lamenta a decisão. Já o gabinete do presidente francês Emmanuel Macron informou que ele telefonou para o americano e ressaltou a importância do tratado para a segurança e a estabilidade da Europa.
Nesta segunda-feira (22), o conselheiro da Casa Branca para a Segurança Nacional, John Bolton, se reunirá em Moscou com o chanceler russo, Serguei Lavrov.
A visita, prevista há muito tempo, tinha o objetivo oficial de prosseguir o diálogo iniciado em julho entre o presidente americano e seu colega russo, Vladimir Putin. Mas o anúncio de Trump de retirar os EUA do tratado INF mudou a agenda.
Bolton será recebido por Lavrov às 19h (13h de Brasília), segundo a embaixada americana em Moscou. O presidente russo também receberá o assessor americano, mas o encontro não acontecerá nesta segunda-feira, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
O americano também se reunirá com o diretor do Conselho de Segurança Nacional russo, Nikolai Patrushev.
Gorbachev, agora com 87 anos de idade, também se pronunciou sobre o anúncio de Trump dizendo que a saída do acordo seria um erro e iria minar os esforços realizados para acabar com a corrida armamentista da época da Guerra Fria. "Será que eles realmente compreendem em Washington até onde isso pode nos levar?”, afirmou, segundo a agência Interfax.
Autoridades americanas acreditam que a Rússia está desenvolvendo um sistema que pode permitir o lançamento de mísseis nucleares até a Europa em curto prazo. A Rússia tem negado as acusações.