Rússia promete defesa antiaérea à Síria e entra em rota de colisão com Israel

A Rússia anunciou que irá entregar nas próximas duas semanas sistemas antiaéreos avançados à Síria, colocando-se numa rota de conflito com Israel.

O premiê Binyamin Netanyahu conversou com o presidente Vladimir Putin, alertando que a segurança do Oriente Médio corre risco com a decisão. O assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, criticou o que chamou de "escalada significativa" por parte dos russos e pediu que Putin reconsidere a medida.

Segundo o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, Moscou não pode tolerar mais episódios como a derrubada de um avião de patrulha Il-20, ocorrida na segunda passada (17) e que matou 15 militares do país.

O Il-20 foi abatido por um míssil antiaéreo sírio, mas o Kremlin culpa a atividade de caças-bombardeiros israelenses na região por ter atraído o avião à linha do fogo amigo. Inicialmente, a crise parecia ultrapassada. Putin considerou o episódio um acidente, e o chefe da Força Aérea israelense foi a Moscou se explicar. Mas tudo mudou com a fala de Shoigu.

Das duas, uma. Ou o Kremlin apenas está fazendo apenas uma ameaça para pressionar Israel a reduzir sua atividade contra o regime de Bashar al-Assad, ou de fato vai dar instrumentos para que os sírios efetivamente possam proteger seus ativos militares.

Se for em frente, a Rússia entregará sistemas S-300, que têm um raio de ação de 300 km. Os russos já operam o sistema e seu irmão mais avançado, o S-400, nas sua base no país árabe, mas até aqui era algo restrito à proteção de seus homens e equipamentos.

Shoigu disse, segundo as agências de notícias russas, que a derrubada do Il-20 "nos obrigou a tomar medidas de resposta adequadas, destinadas a aumentar segurança dos militares russos". Há um número incerto de tropas russas baseadas na província de Latakia, algo entre 3.000 e 5.000, além de mercenários.

A questão é que esse movimento, se consumado, rompe um delicado equilíbrio estabelecido desde que a Rússia interveio na guerra civil síria e salvou o governo do ditador aliado Assad da derrota, em 2015.

Netanyahu não tolera a hipótese de forças hostis a ela, como o Hizbullah libanês e tropas iranianas, se reforcem em uma frente do lado sírio da fronteira. E isso se tornou possível com a renovada força militar do regime de Damasco.

Jogando de todos os lados, Moscou permitia tacitamente que Israel atacasse linhas de suprimento do Hizbollah. Sem interesse de se envolver num conflito com Israel, a Rússia também mantinha assim o Irã, que é seu aliado mas que procura uma agenda própria no Oriente Médio, sob relativo controle.

Neste ano, contudo, os israelenses reforçaram os ataques conta alvos do próprio governo de Assad. O resultado foi a derrubada do seu primeiro caça em décadas de operações aéreas na região e, agora, o incidente com o avião russo.

Tecnicamente, Síria e Israel vivem em estado de guerra desde que o Estado judeu anexou as colinas de Golã, em 1967. Damasco tem sistemas antiaéreos antigos, o mais avançado sendo o soviético S-200. Com o S-300 à disposição, há a possibilidade de reverter a atual inferioridade contra a aviação israelense, a depender do número de baterias a ser entregues.

A Síria já havia encomendado em 2010 o S-300, e a entrega sempre foi adiada por pressão israelense. Em ocasiões anteriores, a Rússia já desistiu de fazer a entrega após pedidos de última hora de Tel Aviv.

A mudança de humor russo no momento atual, se for verdadeira, pode ter consequências importantes para a tumultuada região.

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