Só reforçar segurança não evita ataques a escolas, dizem especialistas

A utilização de equipamentos de segurança como catracas, câmeras e alarmes até pode ser útil para melhorar a segurança em escolas, mas não é suficiente para evitar ataques como o que ocorreu na quarta-feira (13) em Suzano (SP), segundo pesquisas e especialistas em violência.

Para eles, mais eficientes do que barreiras físicas nos colégios são mecanismos preventivos de mediação de conflito, além de canais de denúncia e protocolos que orientem profissionais a agir diante de ameaças do tipo --documento desconhecido nas escolas estaduais de São Paulo.

Após o ataque, o governador João Doria (PSDB) afirmou que iria rever procedimentos de segurança nas 5.300 escolas sob sua gestão. Entre as iniciativas em estudo está a alocação de policiais em unidades mais vulneráveis, além da implantação de sistemas de vigilância e de controle de acesso.

 

A Secretaria da Segurança Pública não informou quantos colégios têm ronda escolar. Mas, em nota, a Polícia Militar afirmou que "o caráter imponderável da ação dos criminosos [em Suzano] minimizou para quase nenhum o poder de prevenção dos órgãos de segurança". "Todas as circunstâncias (ex-aluno, estar em poder de livros e cadernos etc.) fizeram da surpresa o fator principal desse terrível crime", diz o texto.

Para evitar esse fator surpresa e identificar sinais de que um aluno venha a se tornar um atirador em escola, o Serviço Secreto dos Estados Unidos editou, em julho de 2018, guia com recomendações de segurança às escolas do país.

A ênfase está em medidas preventivas como estabelecer equipe de avaliação de ameaças; definir comportamentos que demandam intervenção imediata (por exemplo, porte de arma); estabelecer um sistema anônimo que permita reportar informações; promover ambiente "construído sobre uma cultura de segurança, respeito, confiança e apoio emocional"; incentivar alunos a compartilhar suas preocupações e prover treinamento a toda a comunidade escolar.

No estado de São Paulo, há um programa para capacitar professores e vice-diretores para atuarem como mediadores, responsáveis por identificar e prevenir conflitos, mas não há um protocolo ou orientação parecida, tampouco sistema de controle de acesso. De acordo com a Secretaria da Educação, cerca de 1.500 das 5.300 escolas têm sistema de videomonitoramento.

Escolas particulares resistem a falar sobre seus esquemas de segurança, mas, em regra, têm vigias e algum controle de entrada, como catracas ou identificação biométrica.

No caso da escola Raul Brasil, as imagens mostram que os alunos entram pelo portão, que estava aberto. Segundo profissionais locais, isso acontecia porque era intervalo e havia grande fluxo no local, que abriga também um centro de línguas.

Para o economista Daniel Cerqueira, especialista em violência e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, um maior controle seria desejável, mas, na prática, provavelmente não teria evitado o ataque.

"As escolas podem e devem tomar medida no sentido de controlar quem entra ou não e evitar a entrada de armas, mas é muito difícil, porque o fluxo é muito grande", afirma. Por essa razão, segundo ele, mais eficaz é criar modelos que incentivem o diálogo. 

Opinião semelhante tem Renan Theodoro, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP. "Onde tem aparato de segurança tem falha", diz. "Esse massacre foi pensado durante mais de um ano. Qualquer planejamento vai antever problemas."

Ele lembra que muitas escolas têm colocado grades em todos os ambientes, o que não impede furtos e agressões a professores e entre alunos.

Entre ações que ele classifica como mais eficazes estão a mediação de conflitos e um reforço à autoridade do professor, que seja legitimada com base no diálogo. "O professor é figura central na resolução de conflitos, mas tem sido muito atacado hoje em dia", diz. Ele avalia ainda que a sociedade e os mandatários precisam rever a "lógica de guerra" que tem cercado relações políticas e sociais.

O secretário de Educação da gestão Doria, Rossieli Soares, afirmou que, além das medidas de segurança, é preciso ter ajuda das famílias para identificar alunos que sofram de depressão ou bullying.

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