Santos cai e estica jejum de treinadores estrangeiros no Paulista
Ao longo do Campeonato Paulista, o argentino Jorge Sampaoli foi incensado, elogiado, celebrado.
Seu Santos encantava: jogava bonito, com velocidade, para a frente, marcava por pressão os rivais. E invariavelmente recheava seus jogos com o que povo mais gosta: gols, muitos gols.
Goleando (4 a 0 no São Bento, 4 a 1 no Bragantino) ou sendo goleado (5 a 1 para o Ituano, 4 a 0 para o Botafogo), o Santos era atração, ganhando elogios e angariando fãs.
O estilo Sampaoli, técnico de 59 anos afamado por ter sido campeão com o Chile na Copa América de 2015 – foi o primeiro título relevante da seleção chilena – e muito criticado pela campanha com a Argentina na Copa do Mundo da Rússia-2018 – caiu por 4 a 3 nas oitavas de final –, encantava no Paulistão.
Tostão chamou esse estilo de inovador. PVC enalteceu a versatilidade tática do treinador. “Sampaoli neles”, escreveu Juca Kfouri.
Elogios de renomados cronistas esportivos, para mencionar apenas os que escrevem na Folha.
Da minha parte, já que pouco acompanhei o Paulistão, não tenho como corroborar essas opiniões, apesar de nelas acreditar piamente, pois vindo de quem vem.
Tinha comigo, entretanto, à luz desse futebol retumbante do Santos, a expectativa de que Sampaoli conquistasse o campeonato.
Pois, isso acontecendo, ele quebraria um longuíssimo jejum. Foi em 1975, ou há quase 45 anos, a última vez que um técnico estrangeiro se sagrou campeão paulista.
Em agosto daquele ano, quando nenhum jogador que participou ou participa deste Paulista tinha nascido, o São Paulo, dirigido pelo argentino José Poy (1926-1996), ex-jogador e ídolo do clube, bateu a Portuguesa no Morumbi, nos pênaltis, e levantou a taça.
Também nos pênaltis, nesta segunda (8), no Pacaembu, o Santos sucumbiu na semifinal diante do Corinthians de Fábio Carille, que à época dessa conquista de Poy tinha dois anos incompletos, mantendo a escrita que impede de chegar ao topo um treinador gringo.
O leitor pode, e deve, perguntar: mas foram muitos os técnicos forasteiros que tiveram chance de ganhar o Paulistão após 1975?
Não. Mas houve alguns.
Cito os que dirigiram os grandes do estado: Diego Aguirre (uruguaio, São Paulo), Edgardo Bauza (argentino, São Paulo), Pablo Forlán (uruguaio, São Paulo), Darío Pereyra (uruguaio, Corinthians e São Paulo), Daniel Passarella (argentino, Corinthians), Filpo Núñez (argentino, Corinthians e Palmeiras) e Armando Renganeschi (argentino, Corinthians). Ninguém no Santos? Não. O argentino Ramos Delgado foi o treinador da equipe em 1977 e 1978, mas não no Campeonato Paulista.
O próprio Poy teve oportunidade de repetir o feito de 1975, mas fracassou, sempre com o São Paulo, tanto em 1976 como em 1982.
Em tempo: De acordo com a Federação Paulista de Futebol, oito treinadores estrangeiros faturaram o Campeonato Paulista desde 1933, na chamada era profissional (a FPF afirma não ter dados confiáveis anteriores a esse ano): Humberto Cabelli (uruguaio, Palestra Itália, 1933), Ramón Platero (uruguaio, Palestra Itália, 1934), Caetano de Domenico (italiano, Palestra Itália, 1940), Joreca (português, São Paulo, 1943, 1945 e 1946), Ventura Cambón (uruguaio, Palmeiras, 1944 e 1950), Jim López (argentino, São Paulo, 1953), Béla Guttmann (húngaro, São Paulo, 1957) e José Poy (argentino, São Paulo, 1975).