Segunda rodada eleitoral é a mais importante já vivida pelo Brasil
O primeiro segundo turno foi entre Fernando Collor e Lula, em 1989, e o vencedor acabou impedido, para frustração do país que tanto lutou pelas eleições para a Presidência.
Se a morte de Tancredo Neves assombraria até Gabriel García Márquez, a destituição de Collor pareceu apenas mais um capítulo da literatura fantástica da América Latina.
Eleito como “caçador de marajás”, logo revelou face autoritária ao se voltar contra esta Folha, invadida pela Polícia Federal.
“Elle” não sabia quem enfrentaria.
“Considero a invasão de uma violência estúpida e ilegal. Por trás dos esbirros policiais, está Collor de Mello, a quem não reconheço como presidente da República, mas como usurpador vulgar da Constituição”, reagiu Otavio Frias Filho. “Escalada fascista” foi o título de editorial do jornal.
Então, já com o caçador cassado, e na esteira da conquista do tetracampeonato, em 1994, Fernando Henrique se elegeu no primeiro turno e repetiu o feito quatro anos depois, o que lhe permitiu receber a seleção pentacampeã em 2002.
Até aí, eleitos mesmo, só dois Fernandos.
FHC não fez o sucessor, pois o insistente Lula derrotou José Serra no segundo turno, uma vez, e Geraldo Alckmin noutra.
O Brasil ia bem, embora o futebol nem tanto.
Vivíamos embates entre a esquerda e a direita, para simplificar, ou, sendo generoso, entre a centro-esquerda e a centro-direita. Nunca entre extremistas de um lado e de outro, diferentemente de agora, onde uma das candidaturas faz o discurso da extrema direita, sem disfarces.
A vida seguiu e Lula fez a sucessora Dilma Rousseff, eleita e reeleita em dois turnos, primeiramente ao derrotar Serra e depois ao ganhar de Aécio Neves, hoje enlameados por denúncias sem fim.
Lula está preso em Curitiba e Dilma teve o mesmo fim de Collor, num processo de impeachment político.
Durante todo o tempo dos governos petistas, a seleção perdeu três Copas do Mundo, e o PT, grande parte do respeito nacional, apesar de ainda ser o maior partido brasileiro.
Tais mandatos, contudo, jamais puseram em risco a democracia ou a liberdade de expressão.
E o petista Haddad busca ser o terceiro Fernando presidente do Brasil.
É ele, são-paulino, o candidato democrata que enfrentará o palmeirense adepto da violência e fabricado por um tsunami de notícias falsas via redes antissociais, como revelou a extraordinária repórter Patrícia Campos Mello, recentemente laureada com o Prêmio Rei de Espanha de jornalismo internacional.
Motivo das ameaças do favorito nas pesquisas não apenas aos “vermelhos”, que “ou irão para fora ou para a prisão”, mas também à Folha.
Por mais que pareça inútil, por mais que grande parte do país esteja com paredes nos ouvidos e tarja nos olhos, por mais que “Ele não” anuncie o que fará e haja quem acredite, até na mídia, poder controlá-lo, como os alemães imaginaram em relação a Adolf Hitler, fica aqui um apelo: não vote em Haddad, vote pela manutenção da democracia.
Faça oposição ao 13 já no dia 1º de janeiro, diga como o valente advogado, e sempre defensor dos Direitos Humanos, José Carlos Dias, que “só Bolsonaro é capaz de me fazer votar no PT”, mas impeça que o Brasil mergulhe na mais profunda das escuridões.
Não se trata de Dérbi, de Choque-Rei, de Majestoso nem de San-São, mas de impedir o horror.
E, acredite, diria o mesmo se o adversário do “Ele não” fosse Alckmin, fosse João Amoêdo ou Henrique Meirelles.