Sem renda, argentino bebe menos de 1/4 do vinho que consumia há 40 anos
A crise de renda que a Argentina vive nos últimos anos está se refletindo diretamente nos dois produtos que os argentinos mais se destacavam: carne e vinho.
Há 40 anos, os argentinos consumiam, em média, 91 quilos de carne bovina por ano. Em 2018, o volume foi um dos menores da história do país, recuando para 56 quilos.
Também há 40 anos, o consumo médio anual de vinho por pessoa era de 88 litros. No ano passado, ficou um pouco abaixo de 20 litros.
Em ambos os casos, não seria possível a manutenção desses patamares de há quatro décadas, inclusive por uma questão de saúde alimentar.
A redução, porém, é constante, e um dos fatores é que os produtos ficaram caros e a renda da população do país vizinho caiu.
Há nove anos, em um congresso mundial da carne em Buenos Aires, Lorenzo Basso, do Ministério de Agricultura da Argentina, já advertia que a carne passaria a ser um produto de luxo.
Novas exigências de sustentabilidade, redução da área da pecuária e a chegada de novos consumidores a esse mercado, principalmente da Ásia, estão fazendo o preço da proteína mudar de patamar.
No caso específico da Argentina, dois outros fatores provocaram essa queda no consumo: seca e intervenção do governo.
O país vizinho passou por uma forte seca no início desta década, provocando uma queda no rebanho. A carne escasseou e o governo se intrometeu no mercado, complicando ainda mais as condições financeiras dos produtores.
No caso do vinho, apesar de a bebida, em doses moderadas, ser considerada boa para a saúde, o volume consumido pelos argentinos no passado era elevado.
A questão renda também vem influenciando na queda. Melhorou a qualidade do produto argentino, e o país ganhou novos mercados externos.
As exportações trouxeram para dentro do país o patamar de preço externo e encareceram os produtos internamente ao longo do tempo.
No ano passado, as exportações de carne bovina da Argentina somaram 577 mil toneladas, o maior volume desde 2006. Com isso, os argentinos voltam a ganhar parte do mercado externo de proteínas, principalmente com a abertura das portas da China e da Rússia. As receitas do ano passado atingiram US$ 2 bilhões.
As exportações de vinho também crescem. A argentina colocou 2,8 bilhões de litros no mercado externo em 2018, um volume 24% superior ao do ano anterior. As receitas atingiram US$ 822 milhões.