Seu corpo na montanha-russa

Eu tenho medo. Mas eu vou. Desde criança. 

Falo do estranho fascínio que uma montanha-russa exerce na gente. Há uma certa ousadia no ato de entregar seu corpo a outras forças além da gravidade, e nas duas últimas semanas estourei minha cota (a de ousadia) até 2020. 

Estive nos parques da Disney, em Orlando, e andei em todas as montanhas-russas que eles têm: das mais “de criança”, como a da Mina dos Sete Anões, à assustadora Expedição Everest. E posso afirmar: meu corpo não é mais o mesmo depois dessas experiências.

A nova onda são as atrações que oferecem passeios virtuais. Para o estupendo Flight of Passage, que fica em Pandora, a área do parque Animal Kingdom que reproduz o filme “Avatar”, você enfrenta filas de até três horas para “voar” num banshee, aquele “pássaro” gigantesco em que os avatares voam na famosa produção de James Cameron, a maior bilheteria da história do cinema. Vale a pena a espera? Cada minuto! O voo é de fato vertiginoso, e você sente até o bicho “respirando” nas suas pernas. 

Na Mission: Space, que fica no Epcot, eu literalmente achei que iria desmaiar. Praticamente imóvel num simulador de voo, você sente suas bochechas esticarem na “decolagem” de um foguete para Marte. A pressão no peito deve ser bem próxima da que sentem os astronautas. Andar depois desse brinquedo é um reaprendizado.

E aí tem o Soarin’, também em Epcot, que faz você se sentir como numa gigantesca asa-delta sobrevoando os lugares mais incríveis do mundo. Tem até um rasante na torre Eiffel brilhando à noite que me fez chorar. Mais uma vez saí mexido da atração.

Mas todas essas, insisto, são experiências virtuais incríveis, extasiantes. Há quem aposte que esse é o futuro dos parques de diversões, e talvez seja mesmo. Só que aí eu entrava numa montanha-russa, das antigas mesmo, com carrinho rolando sobre trilhos duvidosos, e eu me lembrava o que era mesmo uma emoção.

Em tempos em que passamos tanto tempo com os olhos grudados numa tela de celular, um passeio que faz você se lembrar de que tem um corpo, e que ele, frágil e inerte que é, está sujeito forças muito maiores do que a gente imagina, andar, por exemplo, na Space Mountain, um dos brinquedos mais concorridos do Magic Kingdom, é um valioso lembrete de que estamos vivos.

Nela, assim como na Rock’n’roller Coasters (no parque Hollywood Studios), o trajeto quase todo no escuro te espera com curvas repentinas, agudas até. Além das descidas radicais e dos eventuais (e malditos!) loopings, que te deixam de cabeça para baixo. 

 

Quando ainda era criança e andei pela primeira vez na Space Mountain, lembro que saí chorando. Hoje, essa mesma não me apavorou tanto, mas da Rock’n’roller, que, de bônus, ainda empresta as músicas do Aerosmith para o passeio, eu saí meio esquisito. 

Disfarcei meu choro com uma cortina de mau humor que fez todo mundo me estranhar por 20 minutos...

Todas as montanhas-russas têm algo de especial, projetado para tirar o seu corpo do sério. Na do Everest, a certa altura os trilhos “acabam”, e você tem que voltar de ré antes de partir para um mergulho abismal... 

E na minha favorita, a Slinky Dog, na área nova do Toy Story Land, baseada na maravilhosa trilogia homônima, uma pausa no meio do trajeto te engana: você acha que vai dar um tempo, mas o carrinho só para para pegar mais aceleração e... Go! Go! Go! —como está escrito nos arcos que você cruza em alta velocidade.

Quem conhece a Disney, ou mesmo quem já pesquisou  sobre o parque construindo o sonho de um dia ir até lá, talvez estranhe minha afirmação anterior: de que o Slinky Dog é minha montanha-russa favorita. Mesmo? Com tantas opções bem mais extremas? 

Se estou falando de corpos que se desestabilizam, existem opções bem mais intensas. Mas é que só essa que mexe com o seu eixo físico e também com o emocional. E para explicar isso eu vou precisar de outra coluna, daqui a duas semanas...

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