Sirius: nova fronteira da ciência brasileira
Nesta quarta-feira (14), em Campinas, foi dada a partida na mais complexa infraestrutura de pesquisa científica já construída no país. É o Sirius --um acelerador de partículas, em que um feixe de elétrons circula em um grande anel com velocidade próxima à da luz e, ao passar por ímãs, sofre mudança de direção capaz de gerar uma fonte especial de luz de alto brilho e amplo espectro, a luz síncrotron.
Com a presença de cientistas, pesquisadores, do corpo técnico do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) --vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTic)--, do professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite e do presidente Michel Temer (MDB), entre outras personalidades, pela primeira vez um elétron "passeou" neste caminho.
A energia do feixe de luz pode penetrar profundamente até em materiais densos, como rochas, polímeros e metais, produzindo imagens nítidas de estruturas nas escalas atômica e molecular. O que soa complicado é, no entanto, luminoso.
Sirius é a estrela mais brilhante do céu noturno e pode ser vista de qualquer ponto na Terra. Empresta o nome ao Sirius do Brasil, impressionante laboratório multipropósito, abrigado em edifício de 68 mil m2 de área construída. Sua estrutura foi projetada para atender a padrões de estabilidade mecânica e térmica sem precedentes.
Tê-lo em progressiva operação, a partir de 2019, vai permitir diferentes pesquisas em áreas como saúde, energia e meio ambiente. Orçado em R$ 1,8 bilhão, é financiado pelo MCTic e já teve repasses de R$ 1,2 bilhão.
O Brasil já possui uma fonte desse tipo, de segunda geração, a UVX, também no LNLS, em Campinas. Foi a primeira fonte de luz síncrotron do hemisfério sul.
De fato, o salto tecnológico entre as duas gerações permitirá que as imagens alcancem uma resolução muito superior. Isso não diminui a importância do UVX, que prestou relevante papel à produção científica e à sua função social, por exemplo identificando a estrutura da proteína responsável pelo vírus da zika.
Das 50 fontes de luz síncrotron no mundo, pouco mais de 20 são de terceira geração. O Sirius terá nos próximos anos dois competidores de quarta geração: um em operação desde 2016 em Lund, na Suécia, e outro que começará a ser montado em breve na França --além dessas fontes, outras 13 de quarta geração estão em planejamento.
Quando em plena atividade, o Sirius estará na vanguarda, fornecendo a fonte mais avançada do mundo e também com maior brilho dentre todos os equipamentos na sua classe de energia, habilitando o Brasil a produzir ciência competitiva internacionalmente por pelo menos uma década à frente.
O Sirius foi projetado pelas próprias equipes do LNLS, e cerca de 90% dos componentes e sistemas foram desenvolvidos ali ou produzidos sob encomenda por empresas brasileiras.
Destaco ainda a atuação da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que fizeram seleção pública conjunta para desenvolvimento de componentes críticos do anel de aceleração.
Oito empresas foram selecionadas para superar desafios científicos e tecnológicos, como, por exemplo, produção de eletroímãs, detectores de raios X e espelhos de rugosidade nanométrica. Esse esforço qualificou as empresas aprovadas não apenas como fornecedoras do LNLS, mas também para a oferta de soluções em nível mundial.
A concepção e os projetos executivos do Sirius foram realizados por físicos, engenheiros e técnicos brasileiros, submetidos inicialmente a um comitê científico internacional.
Ciência e tecnologia são transversais, estão presentes nos mais diferentes campos da sociedade e contribuem fortemente com o desenvolvimento econômico. Tenho convicção de que esta quarta-feira foi um dia histórico.