Sociedade não quer mais pagar pela ineficiência de empresários, diz presidente da Firjan
Na contramão das reações iniciais de entidades empresariais, a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) se posicionou de forma contundente em apoio à fusão do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços ao futuro Ministério da Economia, que será comandado pelo economista Paulo Guedes.
Em entrevista à Folha, o presidente da entidade, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, diz acreditar que o comando único na economia pode beneficiar a gestão do ambiente microeconômico, com foco na redução de custos para ampliar a competitividade.
No comando da Firjan desde 1995, Vieira diz que a decisão pelo apoio foi unânime e faz coro a críticas de Guedes a setores da indústria que defendem proteção contra as importações.
“A sociedade brasileira não quer mais pagar pela ineficiência de determinados setores empresariais”, diz.
Ao contrário de outras representações empresariais, a Firjan declarou apoio à criação do superministério da Economia. Por quê?
Para o empresário, não interessa se vão ser dois ministérios, um ministério. O importante é que o Estado brasileiro saiba a dificuldade de empreender no Brasil. Esse é o ponto.
O Ministério da Economia vai tratar de macroeconomia e microeconomia. A microeconomia não pode funcionar se a macroeconomia a matar. Talvez a reação venha de quem ainda não entendeu a mudança pela qual o mundo está passando e pela qual o Brasil vai passar.
É uma mudança profunda.
Nós, como sociedade, temos de definir se queremos um Brasil moderno para nós, nossos filhos e nossos netos ou apenas queremos dizer que vai ser moderno e praticar coisas antigas.
Alguns críticos temem uma abertura comercial abrupta, que prejudique a produção nacional. A Firjan não vê esse risco?
O governo [Bolsonaro] tem dito que quer fazer com que as empresas tenham o menor custo possível. Reduzir o custo de trabalho, reduzir o custo de infraestrutura de uma forma que nós possamos entrar nas exportações e, por outro lado, concorrer com produtos importados. Nenhum governo quer destruir empregos. Ele quer dar condições para o emprego aumentar.
Se ele tira os entulhos que nós, empresários, somos obrigados a carregar e permite que as empresas sejam eficientes, por que eu vou ser contra? A sociedade brasileira não quer mais pagar pela ineficiência de determinados setores empresariais.
Pode ser a ineficiência do empresário que não investiu em novos processos tecnológicos, pode ser a ineficiência por má gestão.
O apoio é unânime entre os associados da Firjan ou enfrenta alguma resistência?
Aqui no Rio, nenhuma. Precisamos remar de tal forma que a economia cresça, que as pessoas possam ser empregadas e que exista mercado. De novo, não dá para ter no Brasil uma parte moderna e outra parte antiga.
Quando se fala do Ministério do Trabalho, por exemplo, vêm imediatamente ao debate os pilares de [Getúlio] Vargas, que foram construídos há 80 anos e nos quais foram estabelecidas as categorias econômicas. Não tem mais o menor sentido. Não tem mais onde termina indústria, comércio e serviços.
Em uma de suas entrevistas recentes, Paulo Guedes disse que a indústria brasileira está entrincheirada defendendo o protecionismo. O sr. concorda?
É evidente que ele pensou em alguns grupos específicos. Não são todos. Mais da metade dos empregos do Brasil é gerada por pequenas e médias empresas. Mas posso dar um depoimento pessoal. Quando houve a abertura do mercado, a refinaria Ipiranga era pequena e nós sabíamos que não íamos conseguir competir. Mas ajudamos muito para que a mudança do regime de petróleo acontecesse.
Os empresários têm de entender até onde vão os seus interesses e os interesses da nação. Os empresários que só estão procurando os seus interesses estão fadados ao insucesso. Uma empresa que permanentemente não se atualize, que só fique pensando no passado, não tem futuro.
Mas há setores que reclamam de competição desleal com competidores chineses. A siderurgia, por exemplo...
Mas aí te dou dois exemplos. Aqui no Rio, a siderúrgica CSA, que os alemães construíram e depois foi comprada pelos italianos, está exportando tudo. A siderúrgica no Ceará, que a Vale fez com coreanos, está exportando tudo.
Então, quando existem essas ponderações, é importante não tomarmos como verdadeiro coisas que nós achávamos que eram verdadeiras no passado.
Os salários da China já subiram. Na siderurgia, estou dando esses exemplos. Mas aí você vai perguntar, e as siderúrgicas de Minas? Não sei. Por que um projeto novo funciona e um projeto antigo não funciona?
O sr. já esteve com a equipe de transição?
Não. Já estive com Paulo Guedes. E ele diz muito bem que não quer destruir empregos, ele não é maluco. Ele quer que a microeconomia funcione com a macro, e vice-versa. E que exista um programa de desoneração da produção, que é o sonho de consumo de todos nós há anos.
E como o sr. vê as primeiras medidas e nomes já anunciados?
Está melhor do que nós imaginávamos. O Joaquim Levy [que vai presidir o BNDES], por exemplo. O próprio Sergio Moro [indicado para o Ministério da Justiça], que vem como símbolo da probidade. Os sinais são muito bons, e o Paulo Guedes tem um currículo realmente fantástico. Agora, é diferente? É, porque o Brasil quer diferente.
Na sua opinião, quais seriam as prioridades nos primeiros cem dias?
A reforma da Previdência é fundamental, as contas públicas precisam ser acertadas. O programa de privatização é fundamental para ajudar a reduzir o estoque de dívida. A austeridade na máquina pública é fundamental. Isso aqui já serve a cem dias.
E aí, aos poucos, conversando com a sociedade a respeito de como desonerar as empresas. Vai existir uma discussão toda da qualificação de pessoal, que o Sistema S é importante nesse jogo. Precisamos analisar o que tem de bom nesse sistema e o que precisa ser melhorado.
A Firjan concorda com a ideia de revisão do Sistema S?
Acho ótimo. Toda empresa, por definição, pode ser mais eficiente. Toda organização, por definição, pode ser mais eficiente. Principalmente quando estamos falando de recursos escassos, de austeridade. Nós temos que participar [do processo].
São três reações possíveis: ficar numa trincheira dando tiro, ou ficar indiferente, que é uma irresponsabilidade total, ou darmos as mãos ao poder público que a democracia elegeu para fazermos o melhor.