Sozinha na multidão
Posted By origemsurf on abr 13, 2019 in Destaque, Opinião |
Querido leitor, leitora, devo lhe dizer que, mais uma vez, seremos só eu e você. Uma pausa para explicar a quem chega agora…
Quando criei o blog Origem Surf éramos eu e Filipe. Ele ficaria responsável pela fotografia e eu pelos textos. Acontece que assaltantes entraram na casa onde morávamos e levaram a máquina fotográfica, entre outras coisas. Uma Canon daora, semiautomática, que não era nada demais, mas quebrava o galho legal. Foi um belo balde de água fria visto que até hoje estamos sem equipamento.
Confesso que não entendi muito bem a ausência dele e cobrei no pior estilo, jogando na cara durante dr’s e a última vez que fiz isso achei que iríamos nos separar. Então jurei que nunca mais cobraria uma palavra dele, nem qualquer coisa que fosse. A única “exigência” seria ele ler os textos, sugerir algo e corrigir em caso de erros grosseiros de Português, essas coisas. Agora me dou conta que Filipe foi promovido, de fotógrafo iniciante à editor-chefe.
Depois de dois anos como blogueiros independentes fomos convidados para integrar o time de parceiros da Folha. Não preciso dizer a alegria que foi isso. O melhor é que além do peso da grande mídia seguiríamos com a mesma independência para a criação dos textos. Obviamente tomando mais cuidado, especialmente, em casos de denúncias. Mas enfim, com a estreia no jornal mais foda do país sem desmerecer outros como Estadão, O Globo (seria demais ser parte do time deles também); o caso é que eu tenho uma relação emocional com a Folha.
Na infância eu costumava ouvir as piadas do Simão através da voz da minha avó. Assinante da Folha desde que eu me conheço por gente, o que acabou gerando inevitavelmente doces memórias afetivas. Era um ritual, depois do almoço assistir ao meu tio, São Paulino roxo, folhear as páginas acinzentadas do Caderno de Esportes, com a mesma destreza e o mesmo prazer que degustara, minutos atrás, o pudim de leite sobre a mesa.
Sobre o Simão, achei durante um tempo que era alguém da família, talvez um tio que morasse longe, tamanha a intimidade com que minha avó se referia a ele. Um dia tive a chance de conhecer o jornalista e contei esse capítulo da minha vida. Ele sorriu de modo bem gracioso e de um jeito bem estranho permanecemos lado a lado naquela pré-estreia, eu e o Simão, durante boas duas horas, como se fôssemos velhos amigos. Bem, pelo menos para mim ele era.
Portanto, fiquei eufórica quando soube que o temido por uns e amado por muitos, Ivan Finotti estava “cuidando de tudo” para nos recepcionar. Não sem o aval de Juliana Calderari, uma das pessoas mais inteligentes que tive o prazer de conhecer, e que melhor de tudo, ama o longboard com o mesmo vigor e entusiasmo que senti ao começar a surfar. Ou seja, pura vida. Juliana embarcou no Origem e seria uma colunista de pranchão. Para dar par, chamei a Alexandra Iarussi, jornalista que cobre surfe desde a Almasurf e que naquele momento estava de saída da Hardcore. A ideia era de que Alê ficasse com pautas ligadas ao audiovisual. Filmes, vídeos, festivais de surfe, qualquer coisa do tipo seria conteúdo para ela. Funcionou durante um período, mas a vida cobrou outras decisões de todos nós e segui solo no blogue. É verdade que foi uma senhora despedida.
Já pensei em largar mão? Pensei. Devo até ter verbalizado isso em algum momento, o que afirmo agora, sem constrangimento algum, ter sido uma das maiores insanidades que eu já disse. Pode ser que em algum momento as coisas mudem, eu troque esse layout, passe a fazer vídeos, escreva mais, escreva menos, saia da Folha e volte a ser mais um blog de WordPress, receba outros colunistas, dê adeus a outros colunistas. Mas sou incapaz de deletar ou abandonar isso aqui.
Mas escrever exige tempo, dedicação, inspiração, atenção, destreza, sagacidade, ufa… e estando sozinha é complicado. Precisaria de todos estes adjetivos e ainda dar conta de ser redatora em uma Incorporadora, assessora de imprensa e produtora de conteúdo para redes sociais de uma Escola, cuidar dos cachorros, da minha relação com o Filipe, das refeições diárias, da horta, de surfar, alongar, fazer ioga, terapia, compras para a casa e claro, faxina, porque sou dessas e não abro mão de limpar minha casa.
Sei que não dou conta de tudo e nem quero dar, por isso convidei a Mariana Broggi, surfista (que conheci através da Alexandra), vivendo em Portugal, a nova meca europeia do surfe, formada em Jornalismo. Melhor impossível! Mari arrasou nos textos, era ótimo tê-la no barco. Digo no passado porque essa manhã chamei a Mari no DM do Insta e acabei lendo o que já imaginava. Mari está fora do barco e sem previsão de volta.
Eu entendo as razões dela. Já vive fora do país, sei o quanto isso demanda. Principalmente no período inicial, de adaptação, em que o cansaço extrapola todos os limites físicos e instaura-se sobre o emocional. Uma hora isso passa, mas chegam outras questões, e a vida segue até que um dia você se dá conta de que é completamente capaz de viver longe do Brasil. A saudade não dói tanto assim. Pior, você passa a se perguntar como é que conseguiu viver tanto tempo “naquele país”, tão injusto e perigoso. Foi assim comigo. Quando voltei para São Paulo, depois de quatro anos longe, não fazia ideia que seria “para ficar”. E veja só, lá se vão quase dez anos e cá estou eu de volta e completamente readaptada à babilônia brasiliense.
De fato, a magia do ser humano em se adaptar é algo que me agrada muito falar; já reparou como nos adaptados a tudo? Aos diferentes climas, estações do ano, condições do mar, novas medidas de prancha, uma quilha a menos, uma a mais, parafina nova, estar sozinha novamente no blogue.
Mas, te prometo, não vai demorar muito até que eu convide mais alguém ou quem sabe transforme esse pequeno-grande-blogue em um enorme portal de notícias com centenas de colaboradores, por que não?
Quando ainda tínhamos a Canon e o Fi registrou momentos como este, durante surftrip à Indonésia.
Créditos de imagem: Ana Clery.