Terror vive alta no Brasil, mas ainda busca o grande público

Que o Brasil dá um bom filme de terror, isso ninguém duvida. O incerto é se o brasileiro gosta de se ver refletido em longas do gênero.

O ano de 2018 coroa o auge da produção nacional de horror. Esqueça produções baratas ou restritas a nichos. Quando o ano terminar, ao menos nove desses filmes terão sido exibidos com atores globais no elenco, diretores de peso e sob empolgação da crítica.

Apesar do fuzuê e dos orçamentos maiores dessa bem-vinda safra, são obras que ainda não atraem o grande público nacional. Seria por receio das grandes distribuidoras? Ou preconceito dos espectadores?

Há dois anos, quando a onda começava a se desenhar, a Folha indagou cineastas a respeito. A resposta comum foi a de que brasileiro tem pé atrás com terror falado em português. “Não são filmes como a comédia, que tem aceitação em mais faixas de idade”, disse a produtora Sara Silveira.

Embora vendida para dezenas de países, “As Boas Maneiras”, longa de Juliana Rojas e Marco Dutra que a produtora lançou em junho, fez menos de 9.000 espectadores no Brasil —a despeito da louvação da imprensa, da presença de Marjorie Estiano no elenco e de sua ótima história de lobisomem paulistano.

Em cartaz, “O Animal Cordial”, de Gabriela Amaral Almeida, é outro exemplo. A diretora, conhecedora do gênero, fez uma produção caprichada, protagonizada por Murilo Benício e incensada pela crítica. Ali, as distorções sociais do país servem de molho à trama sanguinolenta encenada em um restaurante.

Na sua semana de estreia, a elogiada obra fez uma média de 2.000 espectadores. É um número considerável ao se levar em conta que foi lançada em só 20 salas e sem verba de marketing. Ainda assim, está longe de blockbusters nacionais, que contam com divulgação maciça e estreiam em dezenas de salas.

Há na fila mais seis títulos de terror até o fim do ano.

Andrucha Waddington, da comédia “Os Penetras”, é um que se arrisca pela primeira vez no gênero com “O Juízo”, história que tem Lima Duarte e Fernanda Montenegro levando sustos de fantasmas da escravidão.

O capixaba Rodrigo Aragão, que há anos fabrica protótipos de monstros em sua casa, bota Jackson Antunes numa história de feitiçaria em “A Mata Negra”.

Outro veterano do horror, Dennison Ramalho faz sua incursão mais pop com Daniel de Oliveira e Bianca Comparato. “Morto Não Fala” trata de um funcionário de necrotério que pode dialogar com os cadáveres.

O mais promissor é “O Segredo de Davi”, do estreante Diego Freitas. Acompanha um jovem serial killer (Nicolas Prattes) que filma seus assassinatos. O tom é sombrio, mas as cenas são carregadas de estilo, quase um Xavier Dolan dark.

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