Tirando o que vai bem, circo de Bolsonaro segue ruim
Agora, até jornalista pode andar armado. Mas nem só de enormes retrocessos civilizatórios, alguns ministros ruins e um guru tosco é feito o circo de Jair Bolsonaro.
Justiça seja feita, a equipe econômica finalmente avança em uma agenda modernizante que procura reduzir entraves históricos no país.
O que a evidência mostra: nos últimos 25 anos, com todo um bônus demográfico a favor e governos de centro e esquerda, o Brasil cresceu em média só 2% ao ano.
No período, os asiáticos tiraram milhões da miséria e se desenvolveram. Até os países ricos avançaram proporcionalmente mais.
O que fica claro no período é que a maior participação do Estado na economia (evidenciada pelo aumento de dez pontos na carga tributária e os déficits crescentes para o sustento do setor público) não mudou o Brasil de patamar.
Ao contrário, chegamos quebrados ao final desse ciclo.
Há agora a necessidade de cortar gastos vitais do dia a dia a fim de pagar salários do setor público (67% maiores que seus equivalentes no setor privado) e aposentadorias precoces (58 anos, em média) em um país onde as pessoas que passam dos 50 vivem mais de 80 anos.
Em linhas gerais, hoje gastamos quase 80% de um dinheiro bom (a receita líquida com a coleta de impostos) com um funcionalismo que sequer é avaliado sistematicamente e pessoas que se tornam improdutivas muito cedo.
Em 24 dos 26 estados, onde moramos e usamos serviços, mais da metade da arrecadação líquida vai para servidores, aposentados e pensionistas. Não dá para lamentar postos de saúde sem remédio e delegacias sem policiais.
Das primeiras medidas dessa agenda modernizante começam a surgir um sentido de direção, e ele vai no caminho de abrir finalmente o espaço para que o setor privado tome a dianteira do processo.
Foi assim com a chamada MP da Liberdade Econômica, que desbasta parte do emaranhado burocrático que tolhe empresas, com a montagem de privatizações de quase R$ 40 bilhões na infraestrutura e, em termos mais amplos, com o esforço em diminuir o déficit do governo com cortes de gastos.
O último ponto não é maldade. Só evidencia o fato de que o Brasil quebrou e da necessidade crucial da aprovação da reforma da Previdência, agora nas mãos do Congresso, para voltarmos a abrir espaço no orçamento para atividades-fim.
Aos que ainda defendem gastar mais com endividamento para acelerar o crescimento, é preciso lembrar que a dívida pública dá saltos e já roça os 80% como proporção do PIB.
Mas os EUA e a Europa não fizeram exatamente isso na crise? Fizeram. Mas emitem dólares e euros, moedas consideradas reserva de valor, e têm renda per capita e PIB muito superiores —o que lhes confere grande capacidade de arrecadação se necessário.
Tirando isso que está bom, o resto vai muito mal.