Torcida brasileira urra nas ruas, mas é tímida nos estádios da Rússia
Com a terceira torcida que mais comprou ingressos para a Copa 2018, atrás apenas dos EUA, que não disputa o torneio, e da Rússia, que sedia a competição, o Brasil vem lotando as cidades por onde a seleção passa no Mundial.
Torcedores vestidos e pintados de verde e amarelo fazem festa nas ruas da Rússia e gravam e divulgam nas redes sociais. O clima, porém, ainda não chegou aos estádios em que a seleção jogou.
Ao menos na primeira fase da Copa do Mundo, os brasileiros foram maioria nas arenas que receberam jogos da seleção, mas acabaram ofuscados pelos rivais no grito.
Sem sincronia nos cantos e separados em pequenos grupos, distantes uns dos outros, passam a maior parte do jogo sentados e só extravasam nos momentos de gol do Brasil.
“Eu adorei a animação da torcida fora dos estádios. Muitas bandeiras, acessórios verde e amarelo, várias músicas e animação. Dentro do estádio, provavelmente pela ansiedade e tensão do momento, nós brasileiros deixamos a desejar na torcida”, disse Amanda Bittencourt, 31, que assistiu ao jogo do Brasil contra a Costa Rica, em São Petersburgo.
“A torcida fica toda concentrada em silêncio e apenas comemora nos gols. Vi também o jogo entre França e Dinamarca e lá eles faziam a ‘ola’ e incentivavam quase a partida toda”, continuou a brasileira.
Tanto no jogo contra os costa-riquenhos quanto diante de suíços e sérvios —os mais barulhentos entre os rivais do Brasil—, as camisas amarelas e azuis da CBF eram maioria nas arquibancadas e nas cidades que sediaram os jogos: São Petersburgo, Rostov e Moscou, respectivamente.
Nessas cidades, os brasileiros criaram pontos de encontro, fizeram churrascos, e ensaiaram canções de incentivo criadas para esta edição do Mundial. A mais entoada, porém, continua sendo a música criada para a Copa do Mundo de 2014, que celebra os mil gols de Pelé e ofende o argentino Diego Maradona.
Durante as partidas, o único momento em que os brasileiros conseguem ser dominantes é quando toca o hino nacional, antes do jogo. Repetiram o que foi feito na Copa das Confederações, em 2013, e no Mundial do ano seguinte, e seguem cantando quando encerra o tempo de execução previsto no protocolo da Fifa.
“Eu achei a torcida fora do estádio com uma grande animação. Muita festa pelas ruas, coisa que só brasileiro realmente sabe fazer. Mas, dentro do estádio, eu senti falta da pressão que as torcidas fazem no Brasil”, disse Filipe Granada, 34, empresário, que está em Samara para ver o jogo contra o México.
Na internet, vídeos que mostram centenas de brasileiros no metrô de Moscou, na véspera do jogo contra a Sérvia, cantando uma nova música que menciona todos os cinco títulos do país em Copas ficaram famosos. A letra diz: “58, foi Pelé. 61, foi Mané, 70, o esquadrão. Primeiro tricampeão. Em 94, Romário. 2002, Fenômeno. Primeiro tetracampeão. Único pentacampeão. Brasil, eô, Brasil, eô”.
“Os brasileiros ficam espalhados pelo estádio e aí complica um pouco essa torcida organizada”, disse Pedro Gutierrez, 28, que é formado em comunicação social.
Gutierrez está na Rússia com mais 11 amigos. Eles criaram uma conta no Instagram chamada “Perdidos na Rússia”, onde postam fotos e vídeos da viagem. Têm dormido nos trens que os levam de uma cidade a outra e às vezes em hostels baratos.
“Todos são amigos desde a infância e cada um tem seu time de coração. O Brasil é nossa oportunidade de torcer junto. Começou na Copa de 2014. Nós fomos em muitos jogos e decidimos que estaríamos na Rússia de qualquer maneira. Nos organizamos e vamos em todos os jogos do Brasil até a final”, afirmou.
Segundo a Fifa, o Brasil foi o terceiro país que mais comprou ingressos para o torneio, com 72.512 aquisições.