Trabalhos forçados na Segunda Guerra geram crise entre Japão e Coreia do Sul
O Japão e Coreia do Sul enfrentam uma crise diplomática desde o inicio do mês por uma questão antiga: a indenização a vítimas de trabalhos forçados durante a ocupação japonesa da Coreia na época da Segunda Guerra Mundial.
No fim de outubro, a Suprema Corte sul-coreana condenou a empresa japonesa Nippon Steel a pagar indenizações a quatro ex-funcionários sul-coreanos que foram vítimas de trabalhos forçados na década de 1940. A sentença ordena o pagamento de 100 milhões de wons (cerca de R$ 330 mil) a cada um deles.
Nas semanas seguintes, representantes dos dois governos trocaram declarações duras. Na terça-feira (13), o Japão entrou com uma representação na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra o vizinho por outro caso, de favorecimento a estaleiros, no que foi apontado como uma possível retaliação.
O processo que condenou a Nippon Steel durou vários anos. Das quatro vítimas, apenas uma sobreviveu até o veredito. Lee Choon-shik, 94, celebrou o resultado, mas lamentou ser o único dos quatro a estar vivo nesse momento.
A decisão gerou irritação no Japão. Para o governo do país, todas as indenizações relacionadas à Segunda Guerra foram resolvidas em um acordo de 1965, e reabrir o caso é uma violação da lei internacional.
Um dos temores de Tóquio é que a decisão abra caminho para mais pedidos de indenização. Há outros 14 processos similares à espera de julgamento, que envolvem grandes empresas como a Mitsubishi e a Mitsui. Novas decisões podem sair em dezembro.
Um levantamento feito em 2012, endossado pelo governo sul-coreano, apontou uma lista de 299 empresas japonesas que teriam cometidos crimes de guerra. Segundo a Coreia do Sul, houve cerca de 150 mil vítimas de trabalhos forçados, sendo que 5.000 delas estão vivas. Familiares dos atingidos também podem pedir indenização.
A tensão entre os dois países aumentou nesta semana. No domingo (11), o ministro das Relações Exteriores do Japão, Taro Kono, disse que "será difícil para qualquer país tratar de qualquer coisa com o governo da Coreia do Sul" se a Justiça local puder desfazer acordos internacionais.
Na terça (13), o governo da Coreia do Sul respondeu e classificou as declarações como "inapropriadas e imprudentes". "O governo japonês deve ter claro que a excessiva ênfase política no atual caso não ajudará o futuro das relações entre os dois países", disse a ministra das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Kang Kyung-wha.
Seul busca uma forma de resolver a questão, mas isso levará tempo, segundo um funcionário ouvido pela agência Reuters. Empresas japonesas investiram US$ 1,84 bilhão (cerca de R$ 6,9 bilhões) na Coreia do Sul em 2017.
Na segunda-feira (12), advogados sul-coreanos foram à sede da Nippon Steel para tentar uma reunião, mas foram barrados na entrada. A empresa considerou a sentença "profundamente lamentável" e argumentou que não é responsável pelas ações que ocorreram durante a guerra.
Caso a Nippon se recuse a cumprir a sentença, o governo sul-coreano pode desapropriar ativos da companhia no país, o que pode levar a um corte de investimentos do Japão na Coreia do Sul.
Na terça-feira (13), o Japão apresentou uma queixa à OMC (Organização Mundial do Comércio) contra a Coreia do Sul, pela acusação de dar incentivos ilegais a estaleiros locais. O país tem 60 dias para responder.
"O comprometimento está em nível baixo nos dois países", disse Jeffrey Kingston, diretor de estudos da Ásia na universidade Temple, no Japão. "Coreanos sentem que o Japão lidou de forma inadequada com as feridas do passado. E o Japão sente que já resolveu a questão e não quer mostrar flexibilidade porque isso abriria uma caixa de Pandora", prosseguiu.
Alguns especialistas sugerem que a Coreia do Sul poderia criar um fundo para compensar as vítimas, alimentado com dinheiro das empresas de dois países. O modelo é inspirado em uma iniciativa da Alemanha, que criou em 2000 um fundo para indenizar empregados que foram vítimas de trabalhos forçados durante o período nazista.