Três ex-assessoras de Marielle são eleitas para a Assembleia do Rio
"Uma sobe e puxa a outra", dizia a vereadora Marielle Franco antes de ser assassinada a tiros em março, no Rio de Janeiro --crime ainda não elucidado pelas autoridades.
Nestas eleições, a vontade de Marielle concretizou-se: três mulheres negras de seu mandato foram eleitas para a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).
Renata Souza, 36, Mônica Francisco, 48, e Dani Monteiro, 27, irão compor a bancada de cinco deputados estaduais do PSOL.
Com quase 64 mil votos, Renata, ex-chefe de gabinete de Marielle, foi a nona mais votada entre os 70 deputados estaduais eleitos neste domingo (7).
"Ser a mulher negra de esquerda mais votada no Rio de Janeiro vem junto com a responsabilidade de barrar o conservadorismo na Alerj e no Brasil", diz à Folha.
Renata promete políticas públicas para superar as desigualdades sociais, garantindo a vida da juventude negra e das mulheres. Ela também afirma que pretende proteger a integridade física e a atuação dos defensores dos direitos humanos.
"Lutar como uma preta, como expôs nosso lema de campanha, significa que nenhuma vida valerá menos que outras."
Questionada sobre o candidato mais votado para a Alerj, Rodrigo Amorim (PSL), que quebrou uma placa em homenagem a Marielle, Renata diz que o ato foi simbólico por apresentar a intolerância e o ódio como métodos da política.
"Tentar destruir a memória da Marielle é mais uma violência contra a sua existência", afirma.
Os mais de 40 mil votos foram uma surpresa para Mônica Francisco, cuja candidatura representava um anseio pessoal de Marielle.
Ela diz entender que a eleição de três assessoras da vereadora surge como uma resposta ao seu assassinato. "Votaram porque queriam homenagear sua memória", afirma.
E se Marielle estivesse viva para comemorar? "Seria espetacular. Imagino sua fala no plenário. Falando 'uma sobe e puxa a outra', 'ubuntu', falando de Angela Davis. Faria uma linda fala."
Questionada sobre a eleição de 13 deputados estaduais do PSL, entre eles Amorim, Mônica reconhece que a legislatura terá fortes embates.
"Vai ser muito duro, um exercício democrático, de tentativa de diálogo, de manutenção da ação republicana de um parlamentar. Entendendo a dureza do que será a Alerj."
Ela diz que, em um primeiro momento, ficou surpresa com a destruição da placa. "Parece fake news, porque é tão absurdo. As pessoas não respeitam outras pessoas, que dirá objetos. Não vão respeitar a memória."
A jovem Dani Monteiro, eleita com quase 28 mil votos, concorda que a disputa na Assembleia será intensa. "Mas a força que elegeu a gente é a mesma força que vamos levar para lá."
Ela também afirma que Amorim foi eleito a partir de um ato de barbárie, que causou dor e raiva. "Não dá para deixar esses discursos correndo soltos pela sociedade, fazendo disso o normal", diz.
Para Dani, a eleição de três mulheres negras veio como um alívio. "É um respiro, numa conjuntura tão difícil, ter projetos vocalizados por mulheres negras. Esse debate tem eco na sociedade."
A jovem, que participou da campanha de Marielle em 2016, conta ter pensado na vereadora com frequência no último fim de semana. "Acho que era assim que ela se sentia. Com esse frio na barriga."