Turistas israelenses desafiam alerta de autoridades e viajam para o Sinai
Praias paradisíacas com vista de tirar o fôlego. Sol quase o ano inteiro, cabanas rústicas a preços baixíssimos e ótimo serviço. Os balneários da península do Sinai, no Egito, são mais do que atraentes para milhares de israelenses ávidos por locais exóticos e próximos –é só cruzar a fronteira sul– para passar férias.
Mas pode ser uma atração fatal. É o que afirma o Conselho de Segurança Nacional de Israel (CSN), que renovou o alerta, em meados de setembro, para que nenhum israelense visite o Sinai sob perigo de ser alvo de atentados terroristas cometidos por grupos locais, pela facção radical palestina Hamás ou pela filial egípcia do Estado Islâmico.
“Conclamamos todos os israelenses que estão no Sinai a deixarem a área imediatamente e retornarem a Israel”, diz o alerta, reeditado anualmente há cerca de 15 anos, mas ignorado por cada vez mais turistas.
Segundo Meir Ben Shabat, diretor do CSN, informações sólidas provam que a ameaça é real. Ele negou os pedidos da Embaixada do Egito e de políticos locais para cancelá-lo.
No site israelense Sinai Vibes, o tema da segurança é relativizado: “Sensação de segurança é uma questão subjetiva e completamente pessoal. Há aqueles que não se sentem seguros mesmo quando andam por Jerusalém ou Paris, e há aqueles que temem o Sinai”.
Se atentados na região afastaram os israelenses na última década, o turismo do país vizinho ganhou força recentemente. Os turistas se hospedam em cabanas à beira-mar nas praias de Bir Sweir, Ras a Satan, Nuweiba, Dahab.
Poucas têm eletricidade ou ar-condicionado, mas é possível receber um serviço caloroso dos beduínos da região, que falam hebraico e se esmeram na simpatia, pelo equivalente a R$ 30 a R$ 80 por noite, incluindo refeições.
Na fronteira entre Eilat, no sul de Israel, e Taba, no norte do Egito, alto-falantes avisam que há perigo imediato e palpável do outro lado.
Mas isso não impediu a passagem da psicóloga Lorena Voldman, 30, nascida na Argentina e naturalizada israelense, que foi pela primeira vez ao Sinai em setembro. “O último ataque foi em 2006, ano em que houve atentados no mundo inteiro. Me senti totalmente segura no Sinai e voltaria a qualquer momento.”
O assistente social israelense Udi Vaks, 33, também é fã do Sinai, para onde viajou pela primeira vez aos 17 anos e voltou muitas vezes. Por medo de atentados, deu um tempo de 2007 a 2015. Mas, desde então, vai até três vezes por ano. Segundo ele, a experiência de encontrar e conversar com egípcios nos balneários é única.
“Não há um pingo de ódio. É como entrar em um mundo paralelo sem conflito”, diz Udi. “Sei que há perigo e que em algum momento, pode haver um atentado. Mas Tel Aviv e Jerusalém são mais perigosos, no final das contas.”
Ataques terroristas no Egito não são novidade. Os principais alvos são membros do governo, forças de segurança, a minoria cristã e turistas estrangeiros. Na península do Sinai –que Israel ocupou de 1967 até 1982–, os ataques contra turistas israelenses começaram pouco depois da devolução da região como parte do acordo de paz entre os dois países, em 1979.
Em 1985, sete civis israelenses foram mortos no balneário de Ras Burqa. Em 1990, um ônibus com turistas israelenses foi atacado, com o saldo de nove mortos e 16 feridos.
Na década de 2000, uma série de ataques contra turistas sacudiu o Sinai. Um dos maiores aconteceu em 2004, quando três bombas explodiram em hotéis às margens do Mar Vermelho. Dos 34 mortos, 12 eram israelenses.
No ano seguinte, um atentado deixou 88 mortos em Sharm el Sheikh. Em 2006, outro ataque no vilarejo de Dahab deixou 23 mortos.
Depois da queda do ditador Hosni Mubarak, em 2011, grupos ligados ao Estado Islâmico encontraram no Sinai um campo fértil para agir. Em 2015, um exemplo dessa atuação chocou o mundo: um avião comercial russo com 224 passageiros caiu no Sinai.
A investigação revelou que a aeronave fora abatida por militantes do EI, que conseguiram colocar uma bomba dentro do avião.