Ultradireita monta a sua tribo

A ultradireita deu nesta segunda-feira (8) o primeiro passo para criar uma alternativa ao domínio, na Europa, de conservadores (a direita civilizada) e da social-democracia.

Matteo Salvini, líder da Liga (a antiga Liga Norte, xenófoba), promoveu encontro batizado pomposamente de “Rumo a uma Europa do sentido comum: o povo levanta a cabeça". Foi uma reunião desidratada, a que compareceram apenas representantes da Dinamarca (Partido do Povo Dinamarquês), da Finlândia (partido dos Finlandeses) e da Alemanha (Alternativa para a Alemanha).

O número relativamente pequeno dos presentes nem remotamente desanimou Salvini: promete um grande evento em maio, sempre na Itália, para o qual serão convidados todos os movimentos europeus que “são alternativas ao domínio dos socialistas e do Partido do Povo Europeu (a direita conservadora)".

É basicamente a tribo a que os Bolsonaros pretendem ligar-se. Salvini é uma grande referência pelo menos para Eduardo Bolsonaro, o chanceler nas sombras.

Trata-se de um grupo marginal na política, tanto nos seus países como na Europa, mas é o que mais vai crescer no pleito para o Parlamento Europeu, marcado para maio.

É de olho nessa eleição que está sendo lançado o novo grupo. Já nasce, entretanto, com restrições de partidos que compartilham as duas características centrais da ultradireita, quais sejam o repúdio aos imigrantes e a rejeição à Europa.

Não aderiram, por exemplo, nem o húngaro Fidesz, partido de Viktor Orban, outro ídolo dos Bolsonaros, nem o PiS (Partido Lei e Justiça), da Polônia.

Orban ainda prefere manter-se no PPE (Partido do Povo Europeu), na esperança de cicatrizar a ferida aberta pela sua suspensão do grupo —suspensão motivada pelas constantes agressões de Orban às regras da União Europeia.

A suspensão imposta a Orban e seu grupo mostra como certas posições da corrente ultra (ou iliberal, como é também tratada pela mídia) são marginais: nem a direita civilizada, representada pelo PPE, as aceita.

As pesquisas para o pleito de maio também mostram a relativa marginalização: na média das pesquisas tabuladas pelo Financial Times, a ultradireita, congregada hoje no grupo Europa das Nações e da Liberdade, ficará com apenas 62 das 705 cadeiras do Parlamento Europeu.

O que alarma os partidos democráticos é o crescimento dessa corrente, paralelo ao encolhimento dos grupos “mainstream": a tribo iliberal saltará, sempre segundo a média das pesquisas, de 37 para 62 lugares. Já o Partido Popular Europeu cairá de 217 para 181, e a social-democracia, de 189 para 132.

Consequência: esses dois grupos perderão a maioria absoluta que, somados, detêm há décadas. Mas, se a eles se acrescentar uma terceira corrente democrática (Alde, Aliança de Liberais e Democratas), continuarão com mais de 50% do Parlamento e, portanto, capazes de barrar qualquer maluquice que tente inventar a ultradireita.

Como se trata de eventos por enquanto restritos à Europa, o pessoal de Bolsonaro ficará apenas olhando de longe, até porque nem tem um partido para chamar de seu, para quando — e se— a ultradireita resolver fazer o povo levantar a cabeça no mundo todo, como promete.


 

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