Vácuo de poder deixado pelas Farc faz violência ganhar força na Colômbia
A três semanas da posse do presidente eleito da Colômbia, o direitista Iván Duque, o país enfrenta uma escalada de violência no interior do país.
Os principais alvos são líderes comunitários ou chefes de grupos de defesa dos direitos humanos, que atuam nos departamentos (estados) mais afetados pelo conflito entre guerrilhas, Exército, facções criminosas e paramilitares há anos.
Enquanto isso, nas cidades, têm havido marchas e manifestações pelo fim dessa violência perpetrada, principalmente, pelas chamadas bacrim (bandos de criminosos).
Essas facções, que reúnem ex-paramilitares, ex-guerrilheiros e narcotraficantes, têm ampliado sua área de atuação desde que o governo passou a negociar a paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), e principalmente depois, com sua posterior desmobilização.
A saída das Farc do cenário para virar partido político abriu ainda mais espaço para uma disputa entre as bacrim pelos territórios abandonados pela ex-guerrilha. A disputa envolve ainda redes de extorsão, rotas de narcotráfico e locais de mineração ilegal que a ex-guerrilha controlava e explorava.
Nesse contexto, os líderes sociais e comunitários, que são em muitos lugares remotos a única referência de proteção da população, acabaram virando um alvo fácil.
O Estado, embora tenha se comprometido, não enviou ainda representantes, forças de segurança e estrutura para proteger a população.
Na semana passada, milhares de pessoas saíram às ruas de Bogotá pedindo o fim da violência e que o Estado assuma seu papel de oferecer proteção a essas áreas de onde a guerrilha se retirou, causando uma nova guerra pelo controle do território.
As vítimas são a população local e aqueles que, voluntariamente, se oferecem para protegê-la.
Os números da violência vêm subindo. Neste ano, de acordo com relatório feito pelo Indepaz (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz), já foram mortos 123 líderes comunitários. Desde a aprovação do acordo de paz com as Farc, no fim de 2016, foram 293.
Segundo Leonardo González, coordenador da ONG, as cifras refletem “um problema crônico de déficit do Estado em várias áreas do país”.
A Anistia Internacional diz que os assassinatos estão ocorrendo sob “o olhar impávido das autoridades”, e a ONU também pediu ações mais concretas.
Depois do segundo turno das eleições, em 17 de junho, vencidas pela oposição, foram assassinados 22 líderes, num sinal de que não se trata de um tema político e soa como um alerta de que é necessária uma ação do Estado específica para essas áreas, onde já estão sendo registradas as formações de polícias comunitárias armadas pelos próprios cidadãos.
O governo do presidente Juan Manuel Santos considera que as alternativas é subsidiar atividades agrícolas e aumentar a presença das forças de segurança. Porém, ambas as medidas não alcançaram êxito ainda.
O problema ficará como uma pesada herança para Iván Duque, que assume no próximo dia 7 de agosto.