Veneno para o planeta
Há dias, pela TV, alguém denunciou que todo o plástico produzido até hoje pela humanidade ainda está entre nós —enterrado ou não, boiando ou no fundo do mar, esperando completar 500 anos para se desfazer.
O que escutei me assustou e me fez ir aos alfarrábios. Descobri que o primeiro arremedo de plástico surgiu em 1839, quando um sujeito chamado Charles Goodyear misturou borracha a certa gororoba química. Deu-lhe um formato de rosca, só que gigante, e produziu um... pneu. Nas décadas seguintes, outros combinaram diferentes materiais e inventaram o filme fotográfico, a bola de pingue-pongue, o nylon. E, no começo do século 20, a baquelite —o primeiro plástico puro.
Daí fiz o que ninguém gosta de fazer: uma autocrítica. Qual tem sido minha contribuição para emporcalhar o planeta? Moro sozinho há séculos com, no máximo, um casal de gatos, e não sou chegado a esses alimentos vagabundos de supermercado. Mesmo assim, minha produção diária de lixo plástico equivale a um saco cheio, incluindo o saco. Não é é muito, se comparado ao lixo produzido por famílias que lotam carrinhos com danoninhos, detergentes, garrafas PET, fraldas e descartáveis de todo tipo. E então me lembrei da baquelite.
Em criança, tive incontáveis times de futebol de botão do Flamengo, carrinhos, ioiôs, jogos de damas e dominó, boliches, vitrolinhas, rádios, o famoso cineminha Barlam e até um boneco de Robby, o robô do filme “Planeta Proibido”. Tudo de baquelite. Eu era um criminoso ambiental e não sabia. E pior ainda foi quando, aos dez anos, comecei minha coleção de LPs. Milhares deles passaram pelas minhas mãos, foram escutados, amados ou não, trocados, vendidos, comprados de novo. O vinil de que eram feitos é um veneno para o planeta.
Pelo visto, tudo isso ainda está em algum lugar, infectando o ambiente. Desculpem.