Venezuela suspende dia de trabalho após apagão que dura mais de 18 horas
Após um novo apagão que começou na tarde de segunda (25) e que se estende até a manhã desta terça (26), o regime de Nicolás Maduro decidiu suspender as aulas e o dia de trabalho no país. É a segunda vez que uma falha geral no fornecimento de energia atinge a Venezuela em menos de um mês.
"Para facilitar o trabalho de restabelecer o serviço elétrico, o governo nacional decidiu suspender por 24 horas as atividades educativas e de trabalho em todo o país", anunciou Jorge Rodríguez, ministro de Comunicação da Venezuela.
O apagão começou por volta de 13h20 locais (14h20 em Brasília), afetando de imediato os semáforos, o metrô, as redes de telefonia celular e internet e o comércio de Caracas, que rapidamente fechou as portas.
Cerca de três horas após a interrupção, o serviço começou a ser normalizado na capital venezuelana e em regiões centrais do país, como Miranda, Carabobo e Aragua. No início da noite, era possível ver lâmpadas acesas nos edifícios residenciais.
Porém, às 22h, voltou a faltar eletricidade em Caracas, e houve relatos de falta de energia durante a noite em 21 dos 23 estados da Venezuela, segundo a agência de notícias AFP.
O regime de Maduro diz que o apagão foi gerado por dois ataques, um deles cibernético, durante a tarde, e outro, eletromagnético, que teria gerado um incêndio em uma central pouco antes das 22h.
O ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, afirmou que os ataques atingiram o centro de armazenamento e transmissão em Guri (estado de Bolívar, no sul).
A vice-presidente Delcy Rodríguez responsabilizou diretamente Mike Pompeo, secretário americano de Estado, John Bolton, assessor de segurança da administração de Donald Trump, e o senador republicano Marco Rubio.
Para o líder opositor Juan Guaidó, autodeclarado presidente interino da Venezuela, o corte ocorreu por uma sobrecarga no sistema de subestações. "Mentem para não assumir sua responsabilidade (...). Estão pondo em risco o pouco que resta em pé da infraestrutura elétrica", disse.
"Esta situação já está demais porque afeta as carnes, os frangos, tudo que é comida se estraga, é perda total", lamentou Leo, 19, funcionário de um restaurante do centro comercial San Ignacio, na região leste da capital venezuelana, na tarde de segunda-feira.
"Agora devemos caminhar por toda Caracas porque não há metrô", queixou-se Alejandra, que trabalha como caixa em um restaurante. "Tudo graças a nosso presidente, que depois joga a culpa nos Estados Unidos", ironizou.
"É cruel, tudo deixa de funcionar. Nos dias de apagão não podemos fazer nada, não há internet, não há acesso a nada", declarou Yendresca Muñoz, 34, analista bancária. Para ela, a única esperança é "a queda deste governo".
O país superou há alguns dias um apagão generalizado, que durou de 7 a 14 de março e complicou as comunicações, a distribuição de água e combustível e o fornecimento de alimentos. A situação levou o governo a suspender as jornadas de trabalho e as aulas por sete dias.
A falta de energia também teria causado, segundo relatos, a morte de mais de uma dúzia de pacientes em hospitais.
Na ocasião, Maduro também acusou os Estados Unidos de realizarem ataques cibernéticos contra Guri, a principal hidrelétrica do país, com o apoio da oposição, liderada por Juan Guaidó.
A oposição atribui a crise da eletricidade ao abandono da infraestrutura e à corrupção. As quedas de luz são frequentes no país.
Cinco dias após a primeira série de apagões, Maduro disse que o serviço de energia estava restabelecido em quase toda a Venezuela, anunciou uma reestruturação de seu gabinete e prometeu uma transformação profunda nas empresas do setor.
Guaidó se declarou presidente interino em 23 de janeiro diante de uma multidão, após o Parlamento —de maioria opositora— declarar Maduro "usurpador" da presidência por considerar fraudulenta sua reeleição no dia 20 de maio de 2018.
Contudo, o líder da oposição ainda não conseguiu quebrar o principal pilar de sustentação de Maduro: as Forças Armadas, que possui amplo poder político e econômico. Dos 32 ministros, nove são militares e estão à frente de pastas como Defesa, Interior, Agricultura e Alimentação, além da PDVSA —empresa estatal de petróleo responsável por 96% das receitas do país— e do serviço de inteligência.
Guaidó prepara uma passeata até o palácio presidencial de Miraflores, em Caracas, para assumir o controle do governo, em data a definir. O opositor não descarta pedir ao Legislativo que autorize uma intervenção militar estrangeira para tirar Maduro do poder.
Washington, principal aliado do autoproclamado presidente interino, também não exclui uma ação armada. Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, negou apoio a uma intervenção militar no país vizinho.
O governo dos EUA aplica sanções econômicas para asfixiar economicamente o país. A próxima medida a ser aplicada pelos EUA contra Maduro será um embargo ao comércio de petróleo, que entrará em vigor em 28 de abril.
Rússia e China, principais credores da dívida externa da Venezuela, estimada em US$ 150 bilhões, converteram-se nos grandes aliados de Maduro. Como parte deste apoio, duas aeronaves das Forças Armadas russas aterrissaram no sábado no aeroporto internacional de Maiquetía, próximo a Caracas, transportando militares e equipamentos.