Vereadora da Flórida que teria o hábito de lamber rostos de homens renuncia
A ideia era a de oferecer uma alternativa divertida e relaxada às reuniões governamentais típicas, de um jeito que se enquadrava bem a uma descontraída cidade de praia.
A Câmara Municipal de Madeira Beach, comunidade costeira de cerca de 4.500 moradores em uma ilha do golfo do México próxima da costa da Flórida, decidiu realizar uma reunião especial ao ar livre, durante o torneio de pesca King of the Beach, em novembro de 2012. O principal assunto em pauta: homenagear uma cidade irmã nas Bahamas.
Mas as coisas não demoraram a escapar ao controle, durante a reunião, de acordo com um relatório da Comissão de Ética da Flórida.
De acordo com o que ela mesmo admitiu, Nancy Oakley, membro da Comissão Municipal de Madeira Beach, havia bebido um pouco durante o torneio de pesca.
Foi quando ela viu o então administrador da cidade, Shane Crawford, e sua assistente-executiva, Cheryl McGrady. Os dois viriam a se casar, mais tarde, mas naquele momento estavam envolvidos em relacionamentos com outras pessoas. Oakley suspeitava de que tivessem um caso.
Usando palavrões, ela exigiu que McGrady, que supostamente estava participando da reunião como escrivã municipal assistente, e encarregada da ata, fosse removida.
Mais tarde, depois do final da reunião, que transcorreu discretamente com exceção do incidente com McGrady, Oakley voltou a se aproximar de Crawford. Ela teria lambido o pescoço e o rosto dele, começando do pomo de Adão; também o agarrou pela virilha e pelas nádegas.
McGrady, que testemunhou o incidente todo, disse a Oakley que ela estava se comportando de modo inapropriado. De acordo com o relatório, Oakley tentou socá-la, mas errou.
Não foi um incidente isolado, disse Crawford ao telejornal Bay News 9, no mês passado. Oakley "tinha o hábito de lamber homens pelos quais sentia atração, ou sobre os quais acreditava ter autoridade", ele disse.
Crawford em 2017 apresentou uma queixa escrita à Comissão de Ética, afirmando que Oakley também havia feito propostas indesejadas a outros funcionários da cidade, e que eles "não estavam interessados em voltar a suportar tratamento daquele tipo".
Oakley renunciou ao seu posto na Câmara Municipal de Madeira Beach no último dia 5, uma semana depois que o painel estadual de ética anunciou que a queixa de Crawford havia sido acatada por decisão unânime.
Ela negou repetidamente que tivesse tocado o colega de maneira indevida e insistiu em que jamais havia lambido o rosto dele, ou o de qualquer outra pessoa. A Comissão de Ética optou por aceitar o depoimento jurado de diversas testemunhas que declararam o oposto, e afirmou que três outros homens haviam testemunhado que Oakley lambeu seus rostos em público e sem o seu consentimento.
"O ato de lamber o rosto e pescoço de uma pessoa é incomum demais para que múltiplas testemunhas e múltiplas vítimas inventassem tê-lo visto", escreveu o juiz administrativo Robert Cohen em seu relatório final. Ele recomendou que Oakley fosse multada em US$ 5.000 (R$ 18,8 mil) e que o governador a censurasse publicamente por comportamento inapropriado.
Oakley não foi localizada para comentar. Em sua carta de renúncia, ela continuou a negar qualquer impropriedade, e disse que só estava deixando seu posto para debelar as controvérsias.
"Embora a Comissão de Ética tenha tomado sua decisão, continuo a afirmar minha inocência, e buscarei os recursos possíveis", ela escreveu. "Isso posto, é melhor que todos sigamos em frente."
Moradores que se pronunciaram durante uma reunião especial da Câmara de Madeira Beach, no dia 6, pareceram concordar. Embora alguns amigos defendessem Oakley, que não compareceu, outras pessoas a acusaram de manchar a reputação da cidade.
"Estou cansado de manchetes embaraçosas criadas pela maioria dessa comissão, e é hora de mudar", comentou uma mulher, que se identificou como Helen Price.
Outro morador de Madeira Beach, Robert Preston, disse à comissão que "eu adoraria ser parte de uma cidade que chega ao noticiário por coisas boas, e não sujeira e lixo".
Ainda que o episódio envolvendo a lambida no rosto tenha supostamente acontecido em 2012, Crawford só fez sua queixa cinco anos mais tarde.
De acordo com um relatório preparado pela Comissão de Ética, o administrador municipal explicou que inicialmente não havia denunciado o assédio de Oakley por medo de que isso lhe custasse o emprego.
No ano seguinte, Oakley escolheu não disputar a reeleição para a Câmara, e Crawford preferiu deixar que o assunto morresse, de acordo com o jornal Miami Herald.
No entanto, quando Oakley decidiu voltar a disputar o cargo, em 2017, Crawford apresentou uma queixa oficial. Ela venceu a eleição e, na primeira reunião da comissão depois de seu retorno, sugeriu que McGrady fosse demitida.
Um mês mais tarde, ela esteve entre os três comissários que votaram suspender Crawford por motivos que não foram inteiramente explicados, ainda de acordo com o Miami Herald.
A investigação sobre os delitos de conduta de Oakley resultou em uma "lavagem muito pública da roupa suja" de Madeira Beach, noticiou o jornal Tampa Bay Times em setembro.
Durante uma audiência, o advogado de Oakley começou a gritar com McGrady, insistindo em que ela tinha um caso com Crawford em 2012, quando os dois eram casados com outras pessoas. McGrady insistiu em que isso era mentira.
Enquanto isso, numerosos amigos de Oakley foram convocados a depor e sujeitados a interrogatório extenso sobre seu consumo de álcool e sobre seu suposto hábito de lamber o rosto das pessoas.
Oakley depôs ter bebido "um pouco de cerveja" e talvez um coquetel, antes do suposto incidente em que teria lambido o rosto de Crawford, de acordo com transcrições da audiência. Ela também admitiu ter usado termos chulos para exigir a saída de McGrady, explicando que "eu não via a necessidade de ela estar lá. Não gosto dela. [...] Creio que alguma coisa estivesse rolando entre eles dois".
Em seu depoimento, McGrady contou história diferente, descrevendo Oakley como beligerante e embriagada", e descrevendo que ela "estava cambaleando", e que tinha nas mãos um copo térmico cheio de álcool, que ela insistiu em colocar diante de seu lugar na mesa da comissão.
"Nunca vi coisa parecida em minha vida, e espero que nunca volte a ver", disse McGrady mais tarde, explicando que "fiquei com a impressão de que a comissária Oakley de alguma forma tinha ciúmes de mim".
Crawford também teve de responder a queixas éticas, noticiou o Tampa Bay Times. O relacionamento dele com McGrady não representa violação das normas municipais mas levou a Associação Internacional de Administradores Municipais a exclui-lo permanentemente de seus quadros, em 2016, depois que moradores apresentaram queixas a respeito.
Uma carta ao então prefeito de Madeira Beach apontava que "é altamente irregular que um administrador municipal tenha um relacionamento com uma subordinada", e que Crawford havia indicado McGrady para aumentos e promoções quando os dois estavam envolvidos.
Em decisão separada, a Comissão de Ética da Flórida multou Crawford em US$ 2.000 (R$ 7.500) em setembro, por aceitar presentes proibidos de lobistas, a saber, descontos na locação de apartamentos, oferecidos por incorporadores de imóveis locais.
Durante o interrogatório, em uma audiência, o advogado de Oakley perguntou a McGrady se ela havia revelado a alguém o suposto ataque ao seu chefe.
"Não falei sobre aquele incidente", respondeu McGrady, "Mas ela lambia muita gente, meu senhor. Por isso todo mundo comentava, depois que os incidentes aconteciam, sobre ela lamber as pessoas. Era o que ela fazia quando se embriagava."
Tradução de Paulo Migliacci