Viagem do papa a países Bálticos tem Rússia como pano de fundo

O papa Francisco viaja neste fim de semana aos países Bálticos em meio a um alarme renovado sobre as intenções da Rússia na região. 

A 25ª viagem de Francisco ao exterior ocorre um quarto de século depois que o papa João Paulo 2º fez a primeira visita papal à ex-União Soviética e comemorou a saída de Lituânia, Letônia e Estônia de cinco décadas de dominação soviética. 

Quando João Paulo 2º chegou, em 1993, as últimas tropas soviéticas tinham se retirado da Lituânia dias antes, e havia muito otimismo. Isso não se repete para a visita de Francisco, entre os dias 22 e 25 de setembro. 

Os três países, que têm minorias étnicas russas, têm soado o alarme sobre as manobras militares da Rússia no mar Báltico, após a anexação russa da região ucraniana da Crimeia, em 2014, e seu apoio a separatistas que combatem o governo ucraniano no leste do país.

Embora deva evitar ofensas, Francisco provavelmente irá elogiar os sacrifícios daqueles que lutaram pela independência um século atrás durante a Revolução Russa e depois sofreram sob o domínio soviético. 

"O papa irá enviar uma mensagem ao mundo de que essa difícil história não foi esquecida e que não pode se repetir", afirmou o presidente lituano, Dalia Grybauskaite, ao Baltic News Service.

Os países bálticos declararam sua independência em 1918 mas foram incorporados à União Soviética em 1940, formando parte dela até o início dos anos 1990, exceto pelo período de ocupação nazista, entre 1941 e 1944, durante a Segunda Guerra.

Os três se uniram à União Europeia e à Otan em 2004, sendo grandes apoiadores da aliança militar ocidental, que veem como baluarte contra as incursões russas no Leste Europeu.

Evelyn Kaldoja, chefe da seção internacional do jornal estoniano Postimees, disse que a história será o centro da visita do papa Francisco.

"Ele realmente vem para parabenizar nossos países no centenário da nossa independência", disse Kaldoja. "E espera-se que ele mostre profundo respeito pela luta que tivemos para restaurar nossa liberdade."

A viagem contará com eventos ecumênicos com as igrejas Luterana e Ortodoxa Russa.

Dos três países, apenas a Lituânia tem uma maioria de católicos (80%). A Letônia tem 25% de luteranos, 19% de ortodoxos e 16% de católicos. Já a Estônia é considerada um dos países menos religiosos do mundo: 76% da população não professa nenhuma fé. 

A viagem causou controvérsia com a pequena comunidade judaica da Lituânia, que foi praticamente dizimada durante o Holocausto. 

Francisco visitará a capital lituana, Vilnius, no 75º aniversário da destruição do gueto de Vilnius, em 23 de setembro de 1943, quando os remanescentes foram executados ou enviados para campos de concentração nazistas. 

O cronograma do papa não previa eventos específicos relacionados ao massacre de 90% dos 250 mil judeus do país, mas nos últimos dias ele acrescentou uma visita ao gueto, onde Francisco rezará em silêncio no dia em que os nomes das vítimas do Holocausto serão lidos em voz alta. 

As comunidades judaicas lituanas e italianas pediram que Francisco também visite o Memorial do Holocausto Paneriai, em uma floresta a 18 km de Vilnius. 

"Escrevemos muitas cartas e tentamos de várias maneiras, mas parece que não vai ser possível", disse o líder da comunidade judaica lituana, Faina Kukliansky.

O porta-voz do Vaticano, Greg Burke, reconheceu o lapso. 

"Percebemos que seria uma lacuna se não o fizéssemos, especialmente nesse dia", ele afirmou. A prece no gueto será "significativa" e "importante", acrescentou.

Francisco também visitará o Museu das Ocupações e das Lutas pela Liberdade, localizado em um ginásio que serviu de sede da Gestapo durante a ocupação nazista e depois da KGB durante a era soviética. 

Monika Garbaciauskaite Budriene, diretora da National TV, disse que a visita ao museu será uma mensagem a Moscou. 

"Será um tributo às vítimas da KGB, à nossa história dolorosa e também um sinal à Rússia e ao mundo de que os crimes soviéticos não podem ser esquecidos", afirmou. 

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