Você sabe o que é esforço produtivo em educação?
Um dos meus heróis é Soren Kierkegaard. Embora ele não esteja no topo da lista, lugar que pertence a Evair, ex-atacante do Palmeiras, o filósofo dinamarquês me deu um presente. Ele definiu o tédio como ausência de sentido, e não de estímulos. Uma vida aborrecida pode ser agitada, cheia de viagens e cervejadas com os amigos. Se não tiver um caminho, um horizonte, vira uma vida chata. Muito chata.
Pois bem, por que evoco o camisa 9 dos filósofos para um texto sobre educação? Porque muitas das nossas aulas carecem de sentido. E é neste ponto que entra uma ideia muito interessante sendo aplicada em algumas aulas de matemática Brasil afora. Ela se chama esforço produtivo.
O esforço produtivo é formado por ideias tão simples quanto poderosas. Primeiro, há mais de um jeito de solucionar um problema matemático. Segundo, o papel do professor não é dar as respostas, mas provocar os alunos a pensar em caminhos para encontrá-las. Terceiro, os alunos precisam se esforçar, pensar, gastar tempo para elaborar suas próprias hipóteses. Quarto, o processo vem antes do resultado.
Esse é um processo que toma tempo —e pode ser até chato no começo. Afinal, com tantas calculadoras em celulares, por que gastar tempo em problemas matemáticos? Vamos logo para o resultado!
Porém, esse é um dos atalhos fatais que costumamos pegar em educação. Vamos para o número depois do = quando a magia está, justamente, antes dele. Quando as crianças aprendem isso, a relação delas com a matemática tende a mudar.
A essa altura, você vai olhar para mim e dizer “não, isso é impossível. As crianças não aprendem nem tabuada na escola!”. Por um lado, você tem razão. Muitos dos nossos estudantes não dominam nem as operações básicas. Por outro, faça um exercício. Volte no tempo. Você se lembra das aulas que não tinham nenhum sentido para você?
É justamente isso que o desafio produtivo quer mudar. Se quiser ver um exemplo na prática, aprecie esse plano de aula da Nova Escola para alunos do sexto ano do ensino fundamental, para crianças com cerca de 11 anos. É outro jeito de aprender matemática.
Abraçar essa “chatice" tem méritos que vão muito além de aprender a pensar. Ela também é fundamental para atacar um outro problemão em educação: a persistência. Na principal avaliação internacional de educação, o Pisa, 61% dos estudantes brasileiros não terminam nem a primeira parte do exame. Na Finlândia, o número é de 6%. Na Colômbia, de 18%.
Há várias razões para isso. Mas uma delas, certamente, é que estamos contando a história errada sobre motivação para os nossos estudantes. Em vez de mostrar a beleza do pensar, vamos direto para uma lista, essa sim, tediosa, de tarefas a realizar. Reinventar o prazer de aprender é, certamente, uma das maiores missões da educação brasileira. Para isso, precisamos devolver aos professores o prazer de ensinar. Esse é o tema da próxima coluna.