Vou lutar para os atletas terem voz de maioria nas confederações, diz Luiz Lima

Eleito deputado federal pelo PSL com mais de 115 mil votos, o ex-nadador olímpico Luiz Lima, 40, quer usar o seu mandato para mudar a estrutura do esporte.

Próximo ao presidente eleito Jair Bolsonaro, o carioca promete não fugir do confronto com o COB (Comitê Olímpico do Brasil) e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). As duas entidades protagonizaram escândalos de corrupção nos últimos anos.

Em entrevista à Folha, Lima disse que vai trabalhar em Brasília para dar protagonismo aos atletas e democratizar a gestão das entidades.

O deputado eleito também quer lutar pela criação de uma liga de clubes de futebol, nos moldes do que acontece nos principais países da Europa.

“Assim como Bolsonaro diz que tem que ter mais Brasil e menos Brasília, temos que fazer isso no esporte também. No futebol, tem que ter mais clubes e atletas e menos CBF. Já no esporte de alto rendimento, tem que ter mais atletas e menos COB”, disse o nadador, que defende que a confederação cuide só da seleção.

Lima é favorável a uma espécie de eleição direta nas entidades. No COB (Comitê Olímpico do Brasil), todos os atletas que participaram da Olimpíada teriam direito a voto.

“O que quero para o COB é que agrade a sociedade e não meia dúzia de dirigentes. Ninguém torce para cartola”, disse, em um quiosque no posto 6 na praia de Copacabana, zona sul do Rio. Há dez anos, ele treina uma equipe de natação em mar aberto no local. 

 

O governo investiu R$ 3,68 bilhões em verba pública no último ciclo olímpico e não conseguiu chegar à meta de ficar entre os 10 melhores países nos Jogos do Rio. O que falta para o esporte brasileiro? O esporte não gastou muito. Gastou errado, de maneira ineficaz. O atleta muitas das vezes não viu chegar nele essa verba. O esporte educacional, por sua vez, não recebeu quase nada. Não entra na minha cabeça, o COB viver praticamente só de verba pública.
Ele já deixou de ser privado e virou público. Por isso, vou lutar para os atletas terem uma voz de maioria. Todos os atletas olímpicos tem de votar no COB. E o voto deles não têm que ter peso diferente [hoje, 35 cartolas e 12 atletas, além do representante brasileiro no COI, têm direito a voto na eleição da entidade]. Nas confederações, os atletas inscritos com mais de 16 anos têm que ter direito a voto. A proporcionalidade tem que ser medida a partir do número de atletas filiados e inscritos em campeonatos nacionais. Se um estado tem 10 atletas no Nacional, e São Paulo 400, esse estado vai ter 10 votos, e São Paulo, 400.

Essas entidades têm seus próprios estatutos. Como o governo vai mudar isso? Tenho certeza que o governo tem um papel fundamental nessa transição. A iniciativa privada não investe no esporte olímpico porque não confia. O que não pode acontecer é o COB ter funcionários que recebem R$ 80 mil [o ex-secretário-geral do COB Sérgio Lobo recebia cerca de R$ 88 mil por mês], muito mais que o teto constitucional.
O que quero para o COB é que agrade a sociedade e não meia dúzia de dirigentes. O atleta é que tem que ser protagonista. Ninguém torce para cartola. A partir do momento que os atletas começarem a escolher seus dirigentes, essa imagem vai mudar. Vai atrair as empresas privadas. Temos que democratizar o esporte. Temos que valorizar também os clubes, que contribuem muito há quase cem anos e sabem identificar talentos.

A CBF também protagonizou uma série de escândalos. Como vai ser o seu diálogo com a confederação? Vou querer discutir o voto [para presidente da entidade] lá também. Como os grandes clubes têm menos poder de voto que as federações regionais? Essa resposta não consigo ter. Como eles ainda não conseguiram organizar o campeonato nacional e deixar a CBF apenas com a seleção brasileira? Vou batalhar por isso. O governo pode fazer pressão política. Espero fazer essa pressão. Os jogadores precisam estar mais envolvidos. Atualmente, eles são protagonistas apenas dentro de campo. É extremamente importante que os clubes organizem o Brasileiro.

A bancada da bola sempre foi muito forte. Como você vai fazer para não ser neutralizado? A renovação foi muito grande no Congresso. Assim como Jair Bolsonaro diz que tem que ter mais Brasil e menos Brasília, temos que fazer isso no esporte também. No futebol, digo que tem que ter mais clubes e atletas e menos CBF. Já no esporte de alto rendimento, tem que ter mais atletas e menos COB.

A CBF sempre se nega a ser investigada alegando não receber dinheiro público. Mas eles têm o monopólio de organização e representação das modalidades perante o mundo. Somente a CBF pode representar o futebol brasileiro fora do país. Mesmo eles recebendo 100% de verba privada, como acontece com a CBF, eles carregam o nome do país. A nossa imagem pode ser valoriza ou arranhada dependendo desta representação. 
A CBF já arranhou demais o nome do Brasil. Eles usam o nome do nosso país, levam a nossa bandeira no peito. Como parlamentar e atleta olímpico de natação, vou lutar para que a nossa representação frente ao nosso povo seja com transparência, competência e honestidade.

A liga é um sonho antigo, mas que não sai do papel. Um dos motivos é a desunião dos dirigentes. Como costurar essa aliança? Os clubes têm que ser rivais apenas dentro de campo. Fora, eles precisam ser unidos e fortes. A partir daí, o futebol será mais organizado e transparente, como acontece nas principais ligas do mundo. Eles têm o poder da torcida, o mercado do futebol. O torcedor, que é o consumidor, é a principal força do campeonato. Eles não podem romper uma união por causa de uma rodada. Quando eles entenderem isso, quando eles derem as mãos e tomarem para si a responsabilidade de organizar o Campeonato Brasileiro, o futebol vai tomar outro rumo. Quero ajudar nisso.

Luiz Lima, 40
Professor de educação física e ex-nadador, com participação nos Jogos de Atlanta-1996 e Sydney-2000, foi eleito deputado federal no Rio pelo PSL com 115.119 votos. Em 2016, durante o governo Temer, assumiu o posto de secretário de alto rendimento do Ministério do Esporte. Deixou o cargo em junho de 2017, após queda de braço com o então presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman

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