Vou me defender vigorosamente de acusações infundadas, diz Carlos Ghosn antes de ser solto
Depois de ter seu pedido de liberdade provisória aceito pela Justiça japonesa, Carlos Ghosn, ex-diretor da Renault e da Nissan preso desde novembro, reafirmou ser inocente e disse que vai se “defender vigorosamente” de acusações “sem qualquer fundamento”.
“Agradeço infinitamente à minha família e aos amigos que me apoiaram durante esta provação terrível”, afirmou o executivo, em comunicado divulgado na tarde desta terça-feira (5).
“Também quero agradecer a associações e militantes de direitos humanos do Japão e do mundo inteiro que lutaram pelo respeito à presunção de inocência e pela garantia de um processo justo.”
Detido em 19 de novembro do ano passado sob a acusação de não declarar o equivalente a R$ 162 milhões em ganhos salariais de 2010 a 2015 na Nissan, Ghosn teria sido interrogado diversas vezes desde então sem que um advogado pudesse acompanhá-lo –o que gerou contestação dentro e fora do Japão.
A Promotoria de Tóquio, que conseguiu estender a detenção do franco-brasileiro (também cidadão libanês) por mais de 100 dias apresentando periodicamente novas acusações contra ele, recorreu da decisão da Justiça, mas agora foi derrotada.
Para ser solto, Ghosn terá de pagar uma fiança que, em valores convertidos, chega a R$ 34 milhões. Confirmando-se a transação, a libertação deve ocorrer na manhã desta quarta (6), no horário japonês, noite de terça no Brasil.
O Judiciário fixou condições para libertar o executivo. Ele precisa morar no Japão e não pode sair do país. Além disso, foram definidas medidas para evitar que ele fuja ou que destrua provas de seus supostos crimes –segundo a agência japonesa de notícias Kyodo, Ghosn pode ser monitorado por um circuito interno de câmeras.
Ele deve ser julgado no fim deste ano ou no começo de 2020.
CRONOLOGIA
19.nov.
Presidente do conselho da Nissan, Carlos Ghosn é preso por supostas violações financeiras no Japão; o diretor da Nissan Greg Kelly também é detido, suspeito de envolvimento no caso
21.nov.
Tribunal de Tóquio mantém as prisões de Ghosn e de Kelly por 10 dias
22.nov.
Conselho da Nissan tira Ghosn da presidência do colegiado e Kelly da direção da montadora
25.nov.
Ghosn se pronuncia pela primeira vez desde a detenção e nega as acusações
26.nov.
Conselho de administração da Mitsubishi Motors remove Ghosn da presidência do colegiado
30.nov.
Tribunal de Tóquio aceita estender até 10 de dezembro a detenção de Ghosn
10.dez.
Procuradores de Tóquio indiciam oficialmente Ghosn por subdeclarar sua renda e prorrogaram sua detenção. Nissan também é indiciada por apresentar declarações financeiras falsas
11.dez
Tribunal de Tóquio rejeita recursoapresentadopelosadvogadosde Ghosn para ele ser libertado
12.dez.
Tribunal brasileiro decide que Ghosn deve ter acesso a apartamento no Rio de Janeiro para recuperar pertences
13.dez.
Nissan afirma que Ghosn e seus representantes não têm direito a acessar o apartamento do Rio e que o conteúdo de três cofres existentes no imóvel podem conter evidência contra o executivo. Na mesma data, o conselho administrativo da Renault ratifica Ghosn como presidente da multinacional
14.dez.
Nissan informa que representantes de Ghosn recuperaram documentos do apartamento corporativo no Rio
20.dez.
Tribunal de Tóquio decide não prorrogar a prisão de Carlos Ghosn
21.dez.
Promotoria de Tóquio faz nova acusação e consegueimpedirasoltura do empresário. Kelly, porém, deve deixar a cadeia
23.dez.
Justiça japonesa decide prolongar a detenção de Ghosn por mais dez dias
25.dez.
Tribunal autoriza liberdade de Greg Kelly, sob fiança de R$ 2,4 milhões
31.dez.
Prisão de Ghosn é prorrogada por mais 10 dias
2019
8.jan.
Ghosn faz primeira declaração pública desde prisão e diz que foi detido injustamente
11.jan.
Promotoria apresenta novas acusações contra Ghosn
17.jan.
Tribunal de Tóquio nega pedido de liberdade sob fiança, e Ghosn deve permanecer detido até março
20.jan.
Ghosn aluga apartamento e oferece uso de monitoramento eletrônico para deixar prisão
22.jan.
Justiça nega novo pedido de liberdade sob fiança de Ghson
24.jan.
Ghosn renuncia à presidência da Renault, e executivos da montadora francesa e da Michelin assumem seu lugar
30.jan.
Em primeira entrevista desde prisão em novembro, Ghson diz que executivos da Nissan usaram conspiração e traição para barrar integração com Renault
7.fev.
Renault apura se Ghosn usou contrato com Versalhes para pagar casamento
12.fev.
Ghosn renuncia aos postos de presidente do conselho e de presidente-executivo da Renault, mas se mantém como diretor
13.fev
Principal advogado de Carlos Ghosn, o ex-promotor Motonari Otsuru, pede demissão. Ele é substituído por Junichiro Hironaka
15.fev
A Ordem dos Advogados do Brasil envia documento à federação japonesa de advogados pedindo intervenção no caso do executivo, afirmando que ele seria vítima de tortura
4.mar
Família e advogados de Ghosn enviam documento para grupo da ONU apontando violações na prisão do executivo
5.mar
Carlos Ghosn tem pedido de fiança aceito pela Justiça japonesa, que fixa pagamento no valor de cerca de R$ 34 milhões e exige monitoramento do executivo por câmeras