2ª noite de desfiles na Sapucaí | A lenda do bode vereador

Após surpreender no ano passado com o vice-campeonato, a Paraíso do Tuiuti desfila este ano com um enredo sobre a cultura popular cearense. Mais especificamente a respeito do bode Ioiô, um animal que fez sucesso entre o povo de Fortaleza e incomodou as elites.

Com o samba-enredo "O Salvador da Pátria", a escola fala da trajetória de um animal que flanava pela capital cearense no início do século passado e, segundo a lenda, teve expressiva votação para vereador. O desfile é assinado mais uma vez pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, que criticou o governo Michel Temer em 2018 com um "vampirão" como presidente.

"O bode Ioiô é um personagem de origem humilde, que venceu as dificuldades da vida, ganhou o apoio popular e acabou virando um líder, mesmo sem querer. Afinal, ele apenas era um bode (risos). Mas no que ele se transforma, ao longo da história, é um excelente exemplo de como o sucesso dos humildes é mal visto e incomoda uma parcela da população", definiu Jack em entrevista ao UOL.

Falando sobre política com bom humor, a Tuiuti promete mais um desfile polêmico.

Vendeu-se o Brasil

A comissão de frente, um tanto mais simples e menos tecnologia do que vimos em outras agremiações na Sapucaí neste ano, foi uma síntese do enredo. Um político surge em um palanque, falando com a população e jogando dinheiro aos pobres, uma alusão também à compra de votos. Então, eis que nasce uma criança do povo, um bode, que conquista os eleitores e aparece com uma faixa presidencial -- na história original ele foi apenas vereador. Porém, em seguida, o animal é retirado do poder e a velha classe política retorna ao comando.

Cores fortes

A Tuiuti quis deixar claro desde o começo que o desfile seria quente. Cores pesadas, como a vermelha e a amarela, carregaram o abre-alas "A Travessia do Sertão", inspirada nas obras de Chico da Silva. Os animais representavam o medo dos retirantes de entrar na jornada para o desconhecido, além de cactos secos para lembrar da falta de água da região. Uma bela iniciativa da agremiação também foi de colocar a velha guarda antes do carro de abertura, um símbolo da força de seus integrantes mais experientes. Cores quentes ainda foram vistas na cabeça das baianas, cujo adereço foi uma referência às trouxas usadas pelos retirantes, e em uma ala para simbolizar o chão árido e rachado do nordeste. Assim que o boi sai do sertão e vai para a capital Fortaleza, o azul e o verde dominaram as alegorias e as alas, uma "esfriada" em relação à região anterior. 

Veja o enredo da escola

"O Salvador da Pátria"

O meu bode tem cabelo na venta
O Tuiuti me representa
Meu Paraíso escolheu o Ceará
Vou bodejar lá iá lá iá

Vendeu-se o Brasil num palanque da praça
E ao homem serviu ferro, lodo e mordaça
Vendeu-se o Brasil do sertão até o mangue
E o homem servil verteu lágrimas de sangue

Do nada um bode vindo lá do interior
Destino pobre, nordestino sonhador
Vazou da fome, retirante ao Deus dará
Soprou as chamas do dragão do mar

Passava o dia ruminando poesia
Batendo cascos no calor dos mafuás
Bafo de bode perfumando a boemia
Levou no colo Iracema até o cais
Com luxo não! Chão de capim!
Nasceu muderna Fortaleza pro bichim

Pega na viola, diz um verso pra iô iô
O salvador! O salvador! (da pátria)

Ora meu patrão!
Vida de gado desse povo tão marcado
Não precisa de dotô
Quando clareou o resultado
Tava o bode ali sentado
Aclamado o vencedor

Nem berrar, berrou, sequer assumiu
Isso aqui iô iô é um pouquinho de Brasil

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