A força da direita no 2º turno
A liderança consolidada nas pesquisas e a ida para o segundo turno representam uma vitória notável para Jair Bolsonaro e também para a incipiente direita política brasileira.
A luta de seus apoiadores para que a eleição fosse definida ainda no primeiro turno não pode ser vista negativamente porque era o resultado mais provável.
O que parecia improvável para muitos até o ano passado era Bolsonaro liderar as intenções de voto do início ao fim da campanha e chegar ao segundo turno como uma força política de direita que o Brasil não via desde, talvez, Carlos Lacerda (1914-1977).
Para Fernando Haddad, a ida para o segundo turno tem o óbvio componente de sobrevivência, muito mais do que vitória, por ser candidato sem expressão nacional que não tinha apoio interno no PT e contava com o ônus de sua experiência desastrosa à frente da Prefeitura de São Paulo.
Imposto ao partido por Lula, ele e o PT são os náufragos que agora tentam sobreviver aos respectivos desastres.
Um aspecto relevante desta segunda fase da eleição é termos no Brasil, finalmente, a contraposição entre projetos políticos e visões ideológicas de natureza distintas, um embate entre direita e esquerda, que até a eleição passada disputava sozinha a Presidência com o PT e o PSDB.
Por mais que alguns digam o contrário, esta segunda volta representa uma vitória da democracia brasileira, que também é instrumento de embate e alternância de poder entre as posições divergentes.
Há, de fato, dois projetos de país substancialmente divergentes representados por Bolsonaro e Haddad.
Se eleito, Haddad será "Lula lá", com conteúdo marxista e anabolizante: se empenhará para recolocar o Estado a serviço do PT numa escala maior da verificada nos 12 anos de governos petistas (Lula e Dilma); tentará controlar as instituições formais e não formais (Judiciário, Ministério Público, Congresso, ONGs, imprensa); se esforçará com seu partido para submeter o país ao seu projeto de poder mediante o uso de instrumentos legais e jurídicos existentes e os que serão criados.
E, como na blague contra o FMI, o governo do PT tirará ainda mais dinheiro dos pobres para dar aos ricos fingindo que tira dos ricos para dar aos pobres.
Bolsonaro, por outro lado, submeteu ao crivo da sociedade uma agenda política e econômica de direita e, portanto, algo completamente novo para os votantes que só tinham visto a disputa presidencial entre PT e PSDB: cumprir a responsabilidade constitucional de presidente sem interferir nos demais Poderes, libertar a sociedade das garras do próprio Estado que hoje controla e atrapalha de várias formas a vida social e econômica dos brasileiros --seguindo a máxima do presidente americano Ronald Reagan (1981-1989) segundo a qual o governo é o problema, não a solução.
Explicam-se o protagonismo de Bolsonaro nas pesquisas e a votação que ele conseguiu obter no primeiro turno: o candidato do PSL atendeu a uma demanda reprimida de parte da sociedade brasileira por um candidato de direita que oferecesse o pacote completo: ser e parecer honesto, corajoso, contundente e defender uma agenda política baseada no combate à criminalidade; na defesa do direito de autodefesa; no respeito à propriedade privada; na liberdade de mercado (interna e externa); na simplificação do sistema tributário e na redução de impostos; no desenvolvimento de uma política doméstica e internacional baseada em critérios técnicos e não ideológicos; no rompimento com a cultura do toma lá dá cá com o Congresso.
Ansiosa por um representante que comungasse com ela uma agenda política, econômica e moral à direita e que não tivesse medo de defendê-la, é essa parcela significativa da sociedade brasileira que lutará contra a esquerda e contra o establishment para eleger Bolsonaro no segundo turno.