A pior maneira de combater a xenofobia

A pior maneira de combater a xenofobia é tachar de xenófobo qualquer um que viva em Roraima e aponte os problemas causados pela imigração venezuelana.

É fato que a entrada de milhares de venezuelanos mudou a cidade de Boa Vista e a rotina das pessoas em Roraima. Há 2.000 pessoas dormindo na rua, em uma cidade que, ao contrário de São Paulo, não tinha um número visível de pessoas sem teto.

O estado recebeu pelo menos 50 mil venezuelanos, ainda que boa parte não tenha permanecido lá. Nos cálculos do governo estadual, ficaram 50 mil. Para o governo federal, entre 25 mil e 30 mil venezuelanos ainda estão em Roraima, ou seja, 5% da população.

Imagine se a cidade de São Paulo recebesse 600 mil refugiados –haveria impacto, não?

Portanto, assumir uma posição de superioridade diante “desse pessoal de Roraima”, que não sabe que a coisa certa a se fazer é receber os refugiados e não reclamar, só estimula a xenofobia. Desmerecer o interlocutor só aumenta o problema.

É preciso reconhecer que algumas reclamações da população são legítimas. É óbvio que um fluxo de migrantes desse tamanho, em um estado isolado e com população minúscula, muda muita coisa.

Se a gente simplesmente desconsiderar todas as preocupações dos roraimenses, só vamos exacerbar essa sensação de que eles são julgados injustamente por gente de outros estados, gente que está bem longe do problema.

É claro, reconhecer que a migração traz impacto não significa legitimar os diversos atos de discriminação contra venezuelanos no estado, os ataques vergonhosos de brasileiros contra venezuelanos na cidade de Pacaraima, no sábado (18), a tendência de usarem os refugiados como bode expiatório para todos os problemas de segurança já existentes em Roraima, nem o tsunami de fake news e preconceito que tomou conta das redes sociais.

Mas é saudável não exercermos nós mesmos a xenofobia contra "esse pessoal que mora lá longe", em Roraima, um estado que quase nem fica no Brasil, na opinião e ignorância da maioria de nós.

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