Aposentado da seleção, Higuaín foi empecilho à plenitude de Messi
“Minha era com a a seleção argentina está encerrada, e estou certo de que isso deixará muita gente contente. Acredito que isso me fará bem. Quero aproveitar mais tempo com minha família, que vejo que sofre muito quando sou tão veementemente criticado.”
Com essas palavras, de acordo com a Fox Sports da Argentina, o centroavante Gonzalo Higuaín, de 31 anos, anunciou na quinta (28) que não mais defenderá a seleção de seu país.
O atacante do Chelsea, com passagens por River Plate (clube que o revelou), Real Madrid, Napoli, Juventus e Milan, não revelou quem é essa “muita gente”, mas acredito que ele se refira a críticos espalhados pelos meios de comunicação.
Não sem razão, ressalte-se.
Muito por culpa dele, a seleção principal da Argentina mantém um jejum de conquistas desde o século passado. Em 1993, quando o Brasil nem tetracampeão mundial era, venceu a Copa América disputada no Equador (2 a 1 no México na final, com dois gols de Batistuta), quando Higuaín tinha apenas 5 anos. Depois, nada mais.
Pipita, como Higuaín é apelidado, perdeu gols imperdíveis em três decisões seguidas: Copa do Mundo de 2014, Copa América de 2015 e Copa América de 2016.
Há quase cinco anos, no Maracanã, com o placar mostrando 0 a 0, o alemão Toni Kroos errou uma cabeçada e pôs a bola nos pés de Higuaín. Cara a cara com o goleiro Neuer, ele chutou torto, muito torto, para fora.
Na prorrogação, Götze fez o gol que tornou a Alemanha campeã.
Em 2015, no Chile, a decisão era contra o anfitrião. Higuaín começou na reserva e entrou na partida aos 30 minutos do segundo tempo, com o jogo sem gols. Aos 47 minutos, após cruzamento de Lavezzi, ele teve o gol vazio à frente, mas chutou na rede pelo lado de fora. Jogou mal na prorrogação e ainda desperdiçou sua cobrança na disputa de pênaltis.
Chile campeão, e Higuaín novamente vilão.
Com o goleiro Bravo à frente, Higuaín desperdiça claríssima oportunidade na final na Copa América de 2016, contra o Chile, em Nova Jersey (Don Emmert – 26.jun.2016/AFP)
Na Copa América Centenário, no ano seguinte, nos EUA, o oponente na final coltou a ser o Chile, e Higuaín começou como titular. No primeiro tempo, para não perder o hábito, perdeu um gol feito, depois de o zagueiro Medel, último homem da defesa, bobear de forma bizarra e perder a bola para o argentino. Que avançou e, ao tentar deslocar o goleiro Bravo, tocou pessimamente, para fora.
Ele foi substituído no segundo tempo, a Argentina bisou a derrota nos pênaltis depois de mais um 0 a 0, e Higuaín, pela terceira vez em três anos, recebeu boa parcela da culpa pelo fracasso.
Que ele, aliás, não considera fracasso – nem esse nem nenhum dos anteriores.
“Fomos chamados de fracassados por chegarmos a três finais seguidas e não vencê-las, uma delas a da Copa do Mundo. Para mim, fracassar é outra coisa. Muita gente prefere criticar a apoiar”, afirmou o camisa 9.
Caso fizesse uma autoanálise, Higuaín perceberia que as críticas a ele têm fundamento.
A história poderia ter sido outra (não uma, mas três histórias) se ele pusesse aquelas bolas na rede – afinal, o papel principal do centroavante, mais do que qualquer outro jogador em campo, é esse, fazer o gol.
Muitos e muitos, inclusive este que aqui escreve, consideram que Higuaín é um dos grandes responsáveis, se não for o maior, por Lionel Messi, um dos melhores futebolistas que o mundo já conheceu, ser malsucedido com a seleção argentina.
A falta de títulos quase fez o excepcional camisa 10 deixar de atuar por seu país – deprimido por, obviamente, não se sentir em plenitude.
A mesma falta de títulos o impede de ser considerado, sem contestações, melhor do que o compatriota Diego Maradona – este tão genial quanto Messi, mas com o diferencial de ter sido campeão na Copa do Mundo do México, em 1986.
Assim, se há alguém com motivos (três) para ficar contente com a decisão de Higuaín, mais do que seus críticos, esse alguém é Messi.
Quem sabe sem a presença do contumaz perdedor de gols feitos em finais a Argentina possa encerrar a seca de troféus e fazer Messi finalmente erguer uma taça por seu país – tem Copa América logo mais, em junho e julho, no Brasil.